Residência oficial da Câmara foi alvo de busca e apreensão nesta terça (15).
Policiais também cumpriram mandados na Diretoria Geral da Câmara.
Após ficar mais de cinco horas dentro da residência oficial da Câmara dos Deputados, a Polícia Federal (PF) apreendeu na manhã desta terça-feira (15) três celulares, três computadores, um tablet e documentos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O balanço da operação de busca e apreensão na casa do peemedebista, em Brasília, foi divulgado pela assessoria da PF.
A ação na residência de Cunha foi um dos 53 mandados cumpridos nesta terça pela mais nova fase da Operação Lava Jato, batizada de Catilinárias. A PF também cumpriu mandados na casa e no escritório do peemedebista no Rio de Janeiro e na Diretoria-Geral da Câmara dos Deputados.
Ao menos 12 policiais e três viaturas foram para a casa de Cunha, na Península dos Ministros, em Brasília. Os agentes chegaram ao local por volta das 6h e foram recebidos pelo próprio deputado do PMDB.
Além de pedir autorização para recolher provas na casa do presidente da Câmara, a Procuradoria Geral da República também pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizasse busca e apreensão na residência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). No entanto, o ministro Teori Zavascki, do STF, responsável pelos processos da Lava Jato no tribunal, negou o pedido.
Nesta terça, além de Cunha, foram alvos de mandados de busca e apreensão dois ministros de Estado, um ex-ministro, um prefeito e parlamentares – a maioria deles ligada ao PMDB.
Veja a lista completa de alvos da Operação Catilinárias:
- Aldo Guedes, ex-presidente da Copergas e ex-sócio de Eduardo Campos
- Alexandre Santos (PMDB-RJ), ex-deputado federal
- Altair Alves dos Santos, que, segundo o lobista Fernando Baiano, recebeu RS 1,5 milhão para repassar a Cunha
- Aníbal Gomes (PMDB-CE), deputado federal
- Áureo Lídio (SD-RJ), deputado federal
- Celso Pansera (PMDB-RJ), ministro de Ciência e Tecnologia
- Denise Santos, chefe de gabinete do presidente da Câmara
- Djalma Rodrigues de Souza, ex-gerente executivo de Gás Natural da Petrobras
- Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados
- Edison Lobão (PMDB-MA), senador e ex-ministro de Minas e Energia
- Fábio Ferreira Cleto, ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, indicado por Eduardo Cunha para o cargo
- José Wanderley Neto (PMDB), ex-vice-governador de AL e 1º tesoureiro do partido no estado
- Lúcio Funaro, doleiro que teria ligações com Eduardo Cunha
- Nelson Bornier (PMDB-RJ), prefeito de Nova Iguaçu e ex-deputado
- Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro indicado pelo PMDB para o cargo
Catilinárias
A Polícia Federal batizou esta fase da Operação Lava Jato de Catilinárias em referência aos discursos célebres do cônsul romano Cícero contra o senador Catilina, que planejava tomar o poder e derrubar o governo republicano.
Leia abaixo um dos trechos mais famosos do discurso:
Até quando, Catilina, abusarás
da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
A operação
De acordo com a Polícia Federal, foram expedidos 53 mandados de busca e apreensão, referentes a sete processos da Lava Jato, todos relacionados a políticos com foro privilegiado no STF. O principal objetivo da PF era evitar que investigados destruíssem provas e apreender bens que, segundo as investigações, poderiam ter sido adquiridos pela prática criminosa.
Entre os materiais apreendidos, a PF confiscou joias e dinheiro dos investigados, com a suspeita de que possam ter sido adquiridos ilegalmente. Todos os alvos da operação tiveram celulares apreendidos. Os materiais apreendidos no DF serão levados à sede da PF, em Brasília. Já o que foi apreendido nos demais estados será encaminhado nos próximos dias.
A PF também informou que, além das residências de investigados, são realizadas em sedes de empresas, escritórios de advocacia e órgãos públicos.
Os mandados foram cumpridos no Distrito Federal (9), em São Paulo (15), Rio de Janeiro (14), Pará (6), Pernambuco (4), Alagoas (2), Ceará (2) e Rio Grande do Norte (1).
Por volta de 12h30, a Polícia Federal iniciou uma operação de busca e apreensão no gabinete do deputado Aníbal Gomes. Por volta de 14h, permaneciam no gabinete três policiais federais, um procurador e dois policiais legislativos, que acompanhavam a ação.
Outro mandado foi cumprido na sede do PMDB em Alagoas, relacionado ao inquérito do senador Fernando Collor (PTB-AL).
Segundo a Polícia Federal, foram cumpridos ainda mandados de busca e apreensão dentro do inquérito que investiga o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE). A PF informou ainda que os endereços onde houve buscas não são do parlamentar mas estão ligados às investigações.
Suspeitas contra Cunha
A busca na casa de Cunha foi autorizada pelo ministro Teori Zavascki, do STF, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O objetivo é coletar provas nos inquéritos que apuram se o presidente da Câmara cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O peemedebista já foi denunciado pela PGR pela suspeita de ter recebido pelo menos US$ 5 milhões por contratos de aluguel de navios-sonda pela Petrobras. O Supremo ainda não decidiu se aceita ou não a denúncia.
Cunha também é alvo de inquérito que apura suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro em razão de quatro contas na Suíça atribuídas ao parlamentar.
Defesas
A assessoria de Eduardo Cunha informou que um de seus advogados acompanha o trabalho da PF. O advogado Marcelo Nobre informou, durante reunião do Conselho de Ética da Câmara, que as buscas nos endereços de Cunha "só reforçam" a defesa do peemedebista, já que, segundo o advogado, não existem provas contra ele.
Em entrevista coletiva, o presidente da Câmara afirmou que a Operação Lava Jato poupa políticos do PT e mira no PMDB. Ele voltou a dizer que não renuncia ao cargo.
De acordo com a assessoria da Câmara, por ser uma ação sigilosa, não serão fornecidas informações sobre a atuação da Polícia Federal na Casa.
Celso Pansera foi nomeado ministro na última reforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff. Antes de ser deslocado para a pasta, o peemedebista cumpria mandato de deputado federal e era um dos principais aliados de Eduardo Cunha na Câmara. Durante as investigações da Lava Jato, Pansera chegou a ser acusado pelo doleiro Alberto Youssef de ser "pau mandado" do presidente da Câmara.
Em nota, Pansera diz manifestar "pleno interesse" no esclarecimento dos fatos sob investigação. Ele também se coloca à disposição das autoridades e afirma que "abre mão espontaneamente do sigilo constitucional que protege seus dados de natureza bancária e fiscal".
O ministro Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Câmara, também integra a ala mais próxima de Cunha no PMDB. "Apesar de surpreso, respeito a decisão do Supremo Tribunal Federal. Estou, como sempre, à disposição para prestar qualquer esclarecimento que se fizer necessário", disse o ministro.
O advogado do senador Edison Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse ter “tranquilidade” com a operação na casa de seu cliente. Segundo ele, o senador está de mudança e não estava em casa no momento da apreensão, mas os itens que estão sendo procurados estão na atual residência.
“Essa operação, a essa altura, é desnecessária. O senador estava contribuindo completamente com a investigação. Agora, é um direito do procurador pedir [o mandado de buscar e apreensão]. Vamos cumprir e obedecer, não temos nenhuma preocupação”, disse Kakay.
A assessoria do senador Fernando Bezerra Coelho divulgou nota na qual diz reiterar a "confiança no trabalho das autoridades". O texto também afirma que o senador continua à disposição para "colaborar com os ritos processuais e fornecer todas as informações
Assessoria de imprensa do deputado Áureo Lídio disse que não irá se manifestar até que tenha conhecimento do pedido feito pela PGR.
O prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier, disse ao G1 ter sido pego de surpresa com a busca, que, segundo ele, foi rápida. Para Bornier, ele foi alvo das buscas por ter sido colega de bancada de Eduardo Cunha. Ele também disse desconhecer se há alguma acusação contra ele e evitou comentar as denúncias contra Cunha.
"Acredito que seja por que eu fui deputado federal da mesma bancada que o Cunha. [...] Sou amigo e colega de Cunha, apenas isso, não há nenhuma ligação com essa operação. Entraram aqui, não encontraram nada", disse.
Fonte: G1
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