sábado, 14 de dezembro de 2013

Espaço Literário

Este espaço está sendo aberto hoje, dia 14 de dezembro de 2013, e passará inicialmente por ele, o ilustre filho de Nova Cruz, Diógenes da Cunha Lima

Diógenes da Cunha Lima nasceu a 26 de julho de 1937, no município de Nova Cruz, inicialmente Anta Esfolada, sendo consagrado a Nossa Senhora de Santana. Como os pais esperavam uma menina, tinham como certo que seria chamado de Ana. Registrado equivocadamente pelo escrivão como vindo ao mundo seis dias antes, desde adulto o poeta comemora o aniversário de 20 a 26, sem interrupção. Nasceu na moradia da avó materna, Olindina, num meio-dia ensolarado de uma segunda-feira, dia de maior movimento na cidade, dia de feira livre, comércio que atraía visitantes da região do agreste potiguar.
Na cidade nova-cruzense iluminada com a energia de um motor a óleo, a primeira casa em que Diógenes morou, em frente à estação ferroviária, transformou-se futuramente no Hotel Cosmopolita.
Desde pequeno sentia uma atração irresistível pelas árvores. Quando triste ou com algum problema, ficava horas no alto dos seus galhos não pensando em nada. Bastante mimado, comia pouco e zangava-se com facilidade, sendo muitas vezes necessária a firmeza dos pais ou da tia Maria Júlia para acalmá-lo.
Aos sete anos, o terceiro filho dos Cunha Lima trabalhava na loja vendendo tecidos, sombrinhas, chapéus, colchões de capim e cobertores. Diógenes Filho aprendeu mais na loja com a psicologia humana do que na universidade. Passou muitos anos nessa função, e mesmo quando estudante em Natal, nos finais de semana cuidava do negócio familiar. O pai-mestre, que tinha problemas de saúde e recebia os clientes com largos sorrisos, os ensinou a serem autônomos. Com ele, Diógenes aprendeu a ler, escrever, lavar cavalos, dar comida aos animais, fazer pacote e consertar pequenas coisas.
"Eu era um dos seis filhos do seu Diógenes, um poeta perante a vida, um estudioso, um grande leitor. Ele era adjunto-promotor da cidade, mas também era estudioso de medicina e literatura. Ele me deu os clássicos para eu ler quando eu tinha doze anos, treze anos de idade, mas o que eu adorava mesmo era a poesia dos cantadores da feira. Eu adorava ver, ouvir os cantadores na segunda-feira, na Feira de Nova Cruz"
O poeta veio para Natal aos 13 anos de idade e se tornou um dos apaixonados defensores da cidade. De partida para Natal, Diógenes escutou do seu pai: "Em Natal, há um rio chamado Luís da Câmara Cascudo, o resto é tudo riacho". Foi nas águas desse profundo rio chamado Câmara Cascudo que Diógenes iniciou a sua travessia. Ainda menino procurou o historiador, deu-lhe de presente alguns folhetos de cordel de Nova Cruz, bem acolhido, tornou-se, posteriormente, um dos discípulos mais atuantes de Cascudo. "Ele me deu uma 'bolinha' quando eu era menino, mas me elegeu mesmo seu aluno quando eu entrei para a Faculdade de Direito. Foi quando eu passei realmente a freqüentar a casa de Cascudo", revela. Foram 20 anos de convivência, de admiração e respeito mútuo.
No início da década de 1980, apoiado por grandes intelectuais brasileiros, como Gilberto Freyre e Jorge Amado, liderados por Câmara Cascudo, o nome de Diógenes é indicado para Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sendo aprovado pelo presidente da República. O ex-aluno do Marista, colégio do qual foi expulso injustamente, ex-aluno do Atheneu, ex-presidente da Casa do Estudante, ex-professor de português nas escolas da cidade, torna-se reitor da UFRN aos 40 e poucos anos de idade.
Dos aprendizados com o pai, Diógenes da Cunha Lima sustenta não só a habilidade em escrever, lavar cavalos ou consertar pequenas coisas. Ele traz, sobretudo, ma vida orientada para a atividade intelectual, a honestidade e a generosidade. Traços que o fazem, mesmo calado, um poeta irmão do simples e da magia.
Autor e personagem
Diógenes da Cunha Lima é essencialmente um poeta. Seus livros em prosa têm influência de sua visão poética, presente em toda sua obra. Começou sua carreira de escritor aos 31 anos e aceito como imortal aos 34. Aos 45 já era presidente da Academia norte-riograndense de Letras. Seus livros são resultados de intensas pesquisas históricas, culturais e geográficas, utilizados de forma agradável, lírica e didática.

Diógenes é também autor de ensaios que foram incluídos em obras de outros autores. Escreveu prefácios e orelhas de muitos outros livros, inclusive Câmara Cascudo.

Para além da atividade de escritor, Diógenes já se tornou personagem em obras de ficção de grandes nomes da literatura nacional; como João Ubaldo Ribeiro, que escreveu o Livro de Histórias, usando o poeta de Nova Cruz como inspiração; além de As pelejas de Ojuara, escrito por Nei Leandro de Castro, amigo do poeta. Publicado em 1986, o livro ganhou recentemente a versão cinematográfica pelas mãos do diretor Moacir de Góis, importante cineasta no Brasil. Nas telas, a obra adaptada ganhou o título de O homem que desafiou o diabo e o ator Marcos Palmeira recebeu a responsabilidade de interpretar o personagem principal.
O poeta
Diógenes da Cunha Lima acredita na paixão, na amizade e no surpreendente. É um amante das árvores, das folhas, das flores, das estrelas, dos pássaros, do mar, das memórias e da vida.
"O poeta é também aquele que ouve ou lê poesia. Cada vez que um leitor toma conhecimento de um poema, este é recriado. O leitor é participante da criação poética. Num poema meu, digo que "apenas a poesia é". Na verdade, a existência é a própria poesia. O poema nasce pronto, o conteúdo existe desde o primeiro insight. Podemos mudar a forma de um poema muitas vezes, mas o seu conteúdo se for sincero sempre permanecerá o mesmo" Diógenes da Cunha Lima
Diógenes escreveu a primeira poesia aos oito anos e a publicou num jornal da igreja chamado O Reflexo. O dia marcou uma reviravolta na sua vida. Daí em diante, viu que a poesia fazia parte do turbilhão dos acontecimentos como lanternas nos caminhos noturnos. Para o poeta, a vida sem poesia é pura escuridão. Aos doze anos, lia quadrinhos como Shazon e Doutor Silvana, Reco-Reco, Bolão e Azeitona e os clássicos literários, formando aos poucos seu repertório pessoal: Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Cervantes, Luís de Camões. Deste último, leu a obra completa com violenta participação, como se ele fosse o autor. No entanto, o impacto literário inicial veio da poesia de cordel, literatura popular muito presente em Nova Cruz. Via esses homens que vinham de longe, de curta estadia, como figuras míticas e apaixonantes.


CELEBRAÇÃO
Neste novo dia
Vamos celebrar a terra,
Nosso lar, somos humanos.
Vamos celebrar o ar
Que respiramos, a brisa dos elíseos.
Vamos celebrar o fogo,
A chama que nos aquece e ilumina.
Vamos celebrar a água
De que somos feitos, o ritmo da água, o rio, o mar.
Vamos celebrar a poesia,
O poeta é irmão do simples, da magia.
Vamos celebrar a vitória,
Sem ela o mundo seria sem glória.
Vamos celebrar a derrota
Porque a ela sempre abrimos a porta.
Vamos celebrar a amizade
Que nos confere intimidade.
Vamos celebrar o mistério que nos cerca.
Vamos celebrar o amor, esse mistério, 
E o mistério maior
Que é a vida.
Diógenes da Cunha Lima

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado meu amigo. Foi uma honra ter criado este espaço, e em primeira mão homenagear este ilustre filho de Nova Cruz, o escritor, advogado e poeta, Diógenes da Cunha Lima.

      Excluir