Os que apontaram os riscos da decisão do TRF-4 para o futuro da democracia brasileira não cometiam uma hipérbole de derrotados. Aí está a pesquisa Datafolha mostrando que existe um Brasil majoritário, querendo votar em Lula para presidente, e que é refratário às alternativas que lhe são servidas quando ele é excluído da disputa, preferindo, neste caso, votar em branco ou nulo. A migração dos votos de Lula para outros candidatos é irrisória, pelo menos hoje. Mais 5 pontos para Ciro Gomes, mais 4 para Marina e, para outros, bem menos que isso. Por outro lado, os chamados candidatos do centro persistem com seus índices anêmicos de preferência, com ou sem o nome de Lula na cartela. Tendo fracassado na economia, o golpe vê fracassar também seu plano eleitoral.
O risco para o sistema democrático está neste divórcio inegável entre a vontade da maioria e a determinação dos grupos de elite em impedir a candidatura de Lula. O Brasil pode ter, no final, um presidente de baixíssima legitimidade, rejeitado por mais de um terço dos eleitores. Um presidente sufragado pela maioria dos votos válidos mas não a maioria dos votos nacionais. No ponto em que estamos, isso significará a continuidade e até o agravamento da crise. A eleição tão esperada poderá não ser o fim das provações em curso mas o advento de tempos ainda mais sombrios. Se Temer merece rejeição absoluta mas passiva, em que vem sendo poupado de uma insurgência de massas, o mesmo pode não estar reservado a um presidente que será fruto da fraude, da eleição em que a maioria foi privada do voto livre no candidato de sua preferência. Aí, as portas do inferno podem mesmo se abrir.
O golpe de 2016 e seus desdobramentos, entre eles a condenação de Lula em segunda instância, vem impondo sua agenda com a força de um trator, sem encontrar maior resistência, mas depara-se agora com o fracasso de seu plano eleitoral. A retirada de Lula não abre espaço para nenhum candidato conservador e muito menos para um “out sider” que representasse a novidade, a renovação da classe política triturada pela Lava Jato, alguém como Joaquim Barbosa ou Luciano Huck. Eles também viram japoneses quando misturados a Alckmin, Meirelles, Rodrigo Maia ou Dória. Formam um grande time da lanterna. Nenhum deles se apresenta como contraponto ao ultradireitista Bolsonaro, que segue firme no segundo lugar, apesar de ter sofrido variações negativas pouco significantes.
No plano do golpe, o primeiro passo era derrubar Dilma e entronizar um governo que produziria uma rápida recuperação econômica e colocaria em marcha a agenda das reformas liberais, abrindo o caminho para a eleição de um candidato do bloco vitorioso. De preferência, um tucano. Foi esta aposta que levou o PSDB a romper com seus compromissos democráticos do passado e a apoiar o impeachment. Mas o presidente biônico entronizado revelou-se um desastre em todos os sentidos, inclusive no plano moral, e a econômica seguiu sangrando. Um segundo ato era a inabilitação de Lula. Agora ela está praticamente garantida mas vai ficando claro que o projeto eleitoral faz água, como mostra a pesquisa Datafolha.
Por isso, a realização das eleições não é tão garantida. O golpe, em seu moto contínuo, ainda pode nos reservar mais surpresas. Ou melhor, desastres democráticos.
Fonte: www.brasil247.com
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