terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Mandela 'inspirou a luta no Brasil e na América do Sul', diz Dilma em tributo

Presidente da República foi 2ª chefe de Estado a discursar na solenidade.
Durante cerimônia, Dilma chamou os sul-africanos de 'sul-americanos'.




Dilma Rousseff fez discurso em homenagem a Mandela logo após a fala do presidente americano, Barack Obama (Foto: Pedro Ugarte/AFP)
Dilma Rousseff discursou na África do Sul no tributo em homenagem a Nelson Mandela
(Foto: Pedro Ugarte/AFP)













Sob os olhares de cerca de 80 mil pessoas, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (10), durante discurso em tributo ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela no estádio Soccer City, em Johanesburgo, que o exemplo do líder negro inspirou o Brasil e a América do Sul. Segundo Dilma, Mandela foi "a personalidade maior do século 20".
"Trago aqui o sentimento de profundo pesar do governo e do povo brasileiro e, tenho certeza, [também] de toda a América do Sul pela morte desse grande líder Nelson Mandela. O apartheid que Mandela e o povo derrotaram foi a forma mais elaborada e cruel de desigualdade social e política que se tem notícia nos tempos modernos. [Mandela] Inspirou a luta no Brasil e na América do Sul. 'Madiba', como carinhosamente vocês o chamam, constituiu exemplo de referência para todos nós, pela histórica paciência com que suportou o cárcere e o sofrimento", disse Dilma.
Falando em nome do continente sul-americano, a presidente brasileira foi a segunda chefe de Estado – depois de Obama – a discursar na cerimônia, que lotou o Soccer City, palco da final da Copa do Mundo de 2010, onde Mandela fez sua última aparição pública. O ato na arena de futebol marca o início dos cinco dias de homenagens ao líder sul-africano, que morreu na quinta-feira (5), em Pretória, aos 95 anos.
Os tributos devem durar até seu funeral, previsto para este domingo (15). Símbolo da luta contra a discriminação racial e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993, Mandela será enterrado, de acordo com seu desejo, na aldeia de Qunu, localizada na província pobre do Cabo Leste, onde ele cresceu.
A homenagem a Mandela no Soccer City foi transmitida em telões instalados em outros três estádios de Johanesburgo e em mais 150 locais em toda a África do Sul. O ato também foi veiculado pela televisão para dezenas de países.
Ato falho
A presidente brasileira discursou durante 8 minutos, com o auxílio de um tradutor. Em meio à manifestação de pesar pela morte de Mandela, Dilma cometeu um ato falho, referindo-se aos sul-africanos como "sul-americanos".

"O governo e o povo brasileiro se inclinam diante da memória de Nelson Mandela. Transmito à senhora Graça Machel [viúva de Mandela], aos seus familiares, ao presidente [Jacob] Zuma e a todo o povo 'sul-americano', sul-africano, nosso profundo sentimento de dor e de pesar. Viva Mandela para sempre!", confundiu-se Dilma.
A presidente do Brasil começou a discursar pouco antes das 14h (10h pelo horário de Brasília). Ao se posicionar no púlpito coberto, Dilma foi intensamente aplaudida pelo público. Ela destacou no pronunciamento que a nação brasileira, que traz com "orgulho" o sangue africano nas veias, "chora e celebra" o exemplo do líder que "faz parte do panteão da humanidade.
"Sua luta [de Mandela] transcendeu suas fronteiras nacionais e inspirou homens e mulheres, jovens e adultos, a lutarem por sua independência e pela justiça social. Deixou lições não só para seu querido continente africano, mas para todos aqueles que buscam a liberdade e a justiça e a paz no mundo", destacou.
[Mandela] Inspirou a luta no Brasil e na América do Sul. 'Madiba', como carinhosamente vocês o chamam, constituiu exemplo de referência para todos nós, pela histórica paciência com que suportou o cárcere e o sofrimento"
Dilma Rousseff,
presidente da República
Autoridades de todos os continentes viajaram à África do Sul para prestar uma última reverência ao líder sul-africano. Entre as 91 autoridades mundiais que prestigiaram a cerimônia, estão os presidentes Barack Obama (EUA), François Hollande (França), Raúl Castro (Cuba), o premiê britânico David Cameron e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon.
O tributo ao ícone mundial da luta pela igualdade racial teve início por volta do meio-dia (8h pelo horário de Brasília). Ao longo de toda a solenidade, mesmo sob chuva intensa, milhares de pessoas que lotaram as arquibancadas cantaram e dançaram para reverenciar o ex-presidente da África do Sul.
A viúva de Mandela, Graça Machel, demonstrou muita emoção ao chegar ao Soccer City. Winnie Mandela, ex-mulher do líder negro, foi muito aplaudida ao ter seu nome anunciado pelo sistema de alto-falantes do estádio.
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Logo após apertar a mão de Raúl Castro, o presidente americano, Barack Obama, cumprimenta com um beijo a presidente Dilma Rousseff (Foto: AP/SABC)
Logo após apertar a mão de Raúl Castro, o
presidente Barack Obama cumprimenta com um
beijo a presidente Dilma Rousseff (Foto: AP/SABC)
Autoridades
Homem mais poderoso do mundo, Barack Obama foi o primeiro presidente a discursar na cerimônia. Filho de um africano do Quênia, o chefe do Executivo americano fez um breve resgate da trajetória de Mandela no início de seu pronunciamento. Na visão de Obama, Mandela foi um "gigante da história", que moveu bilhões de pessoas pelo mundo.

Emocionado, o presidente americano lembrou da luta do ex-presidente contra o apartheid, os 27 anos em que o sul-africano passou na prisão e a gestão dele à frente do país, na década de 1990.
"Aos povos de todas as raças, o mundo agradece a vocês por compartilharem Nelson Mandela conosco. A luta dele era a luta de vocês, o triunfo dele foi o triunfo de vocês", enfatizou Obama.
Aos povos de todas as raças, o mundo agradece a vocês por compartilharem Nelson Mandela conosco. A luta dele era a luta de vocês, o triunfo dele foi o triunfo de vocês"
Barack Obama,
presidente dos Estados Unidos
"É tentador lembrar de Mandela como um ícone sorrindo, sereno, descompromissado com os problemas normais dos seres humanos, mas ele transcendeu isso. Em vez disso, 'Madiba' insistiu em compartilhar conosco suas dúvidas, sua fé, seus erros de cálculo, junto com suas vitórias”, completou o presidente dos EUA, ovacionado pelas arquibancadas do estádio.
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a África do Sul perdeu um "herói". Já o mundo, ressaltou o dirigente da ONU, "perdeu um mentor". "Nelson Mandela foi um dos maiores líderes de nosso tempo, um de nossos maiores professores", completou.
A presidente Dilma Rousseff com os ex-presidentes brasileiros na chegada a Johanesburgo, na África do Sul (Foto: Roberto Stuckert Filho / PR)
Dilma e quatro ex-presidentes da República
desembarcaram na África do Sul na madrugada
de terça-feira (10) (Foto: Roberto Stuckert Filho / PR)
Comitiva brasileira
Acompanhada de quatro ex-presidentes da República, Dilma dembarcou na madrugada desta terça-feira em Johanesburgo. Viajaram ao lado da atual chefe do Executivo os ex-presidentes brasileiros Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor de Mello e José Sarney.

A comitiva presidencial partiu para o continente africano da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, no início da tarde de segunda-feira. Antes de embarcar, Dilma escreveu em sua conta no microblog Twitter que o Estado brasileiro havia se unido para "honrar Mandela".
'Madiba'
O ex-presidente da África do Sul ficou internado de junho a setembro em decorrência de uma infecção pulmonar. Ele havia deixado o hospital e estava em casa.

Desde julho, após uma ordem judicial, os restos mortais de três de seus filhos também estão sepultados na aldeia de Qunu.
Conhecido como "Madiba" na África do Sul, nome pelo qual sua tribo é conhecida, Mandela foi considerado um dos maiores heróis da luta dos negros pela igualdade de direitos no país. Ele foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime racista do apartheid, uma política de governo que se estendeu por 45 anos e regulamentava a segregação entre brancos e negros.
Fonte: g1.globo.com

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