O sociólogo e professor Jessé Souza acredita que "o ódio ao pobre é o problema central do Brasil". Em seu novo livro, "A elite do atraso – da escravidão à Lava Jato", ele apresenta a tese sobre como é legitimada a desigualdade social no Brasil e como a elite do dinheiro é a principal influenciadora das ideias e projetos do país, comprando todas as outras elites.
Professor que acaba de ser transferido para a Universidade Federal do ABC, Souza descreve que a ciência é um dos principais elementos nesse jogo de influências, justificando e dando seu parecer e credibilidade a ideias que protegem a pequena parcela mais beneficiada da população, em detrimento da maior parcela menos favorecida. A ciência, de acordo com ele, tem uma ajuda importante da mídia nesse trabalho, que dissemina esses pensamentos "a conta gotas".
Ele afirma que a ideia de que o Brasil "herda a corrupção" de Portugal, criada por Sergio Buarque de Holanda e disseminada por Raimundo Faoro e posteriormente por Fernando Henrique Cardoso, é "absurda". Nossas raízes, diz ele, vêm da escravidão, que sequer existiu em Portugal. O objetivo dessa tese, para Jessé Souza, é esconder a verdadeira corrupção no Brasil, a da elite do mercado, que comanda as decisões para que sejam mantidos todos os privilégios dos ricos.
Para ele, "o ódio aos pobres é o principal problema político e social brasileiro e vem de 500 anos". Ele destaca que existe "o assassinato indiscriminado de pobres como uma política informal em todas as grandes cidades brasileiras". "Não é a polícia. A polícia só faz isso porque ela é apoiada pela classe média e pela elite", afirma. "O ódio ao pobre é a versão moderna do ódio ao escravo", completa.
O PT, em sua visão, "não saiu e não está sendo perseguido por conta de corrupção", mas por ter destinado mais recursos aos pobres. "O que eu digo no livro é que se monta a partir de 1930 uma aliança de poder entre a elite e a classe média, e que o garantidor desse bloco é manter a distância dos pobres. O governo Lula diminuiu essa distância, não apenas dando poder de consumo aos mais pobres, mas aumentando de três para oito milhões as pessoas nas universidades".
Jessé também faz duras críticas à imprensa, principalmente à Rede Globo. "A nossa imprensa é o câncer da democracia brasileira. Porque ela é mera manipulação e repetição de um veneno diário em uma direção só", criticou. Para ele, o deputado Jair Bolsonaro é fruto do casamento entre Globo e Lava Jato. Sobre a operação comandada do Paraná, ele avalia que ela escancara o que chama em seu livro de "a corrupção dos tolos", e não a verdadeira corrupção. "Uma gota no oceano", define. "A Lava Jato foi a maior traição ao Brasil em 500 anos de história", ressalta.
Fonte: Brasil 247
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