Por entre as grades ainda dá para observar o céu e as aves, os voos, e o sol. Poético? São estas imagens que conseguem manter viva a chama da liberdade nos presos do regime fechado do Complexo Penal Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN) Francisco de Assis Andrade, de 56 anos, e Francisco Fábio Ferreira, 27 anos.
Cientes dos erros cometidos, ambos os detentos tem buscado na palavra escrita e cantada uma razão para atenuar as mazelas vividas no cárcere. Francisco de Assis, mais conhecido como Canário, compõe desde 1979, e diz que teve como inspiração e influências poéticas e musicais as canções de Luiz Gonzaga e Benito di Paula, o que o fez adotar instrumentos como a sanfona e o teclado, que hoje o acompanham na solidão da cela.
Inserido dentro de um projeto de remição de pena por meio da leitura e da produção de textos, que será implementado nos próximos dias, no CPEAMN pela Vara de Execuções Penais, da Comarca de Mossoró, Assis falou da importância do projeto e das artes para ele: "O que produzo hoje são músicas evangélicas. Isto me edifica aqui dentro. E projetos desta natureza são muito interessantes porque vemos algum incentivo, vemos o que produzimos ser divulgado, então é muito bom".
Fábio voltou seus olhares para a poesia e diz que a inspiração surgiu em momentos adversos presenciados dentro da prisão, mas que mesmo antes de ser preso, gostava de leitura.
Sobre o projeto de remição de pena pela leitura, comentou: "É uma grande oportunidade para quem quer realmente remir a sua pena, sendo que para quem gosta de ler, isto não vai ser um grande esforço e ainda ganhamos duas vezes: na redução das penas e em conhecimento", comentou.
O vice-diretor do CPEAMN celebra: "O projeto Releitura é algo muito positivo, pois vai permitir que o apenado ocupe o seu tempo com algo produtivo que é a leitura e a produção de textos".
Mundo de ilusão
(Francisco de Assis Andrade)
(Francisco de Assis Andrade)
Num mundo de ilusão,
Eu não achei solução,
Mas uma vez, eu, perdido,
Bati com o rosto no chão.
Deixei a casa do Pai,
No mundo não achei paz,
Fiz a família sofrer
Por ter olhado pra trás.
Alguém me dava conselhos,
Não aceitava jamais.
Quantos amigos covardes
Só me passaram pra trás?
Quantos irmãos na igreja
Me deram conselhos demais?
Só que eu não dei ouvidos
Pra não voltar atrás.
Ao insistir pelo mundo
Deus me lançou na prisão,
Foi quando abri os olhos,
Também o meu coração.
E dentro daquela cela
Falei de Deus pros irmãos
E até os que não eram crentes
Também prestavam atenção.
De madrugada acordava
Com os presos me chamando
Precisando de oração
E eu começava a orar
E a força da oração
Fazia tudo acalmar
Só o poder de Deus
Para ali operar.
De manhã cedo acordava
Já eram eles chamando
Pra agradecer a Jesus
Por não sentir aflição
E que a graça alcançava
Com o Alvará de Soltura
Era a ordem de Deus
Trazendo libertação.
Eu não achei solução,
Mas uma vez, eu, perdido,
Bati com o rosto no chão.
Deixei a casa do Pai,
No mundo não achei paz,
Fiz a família sofrer
Por ter olhado pra trás.
Alguém me dava conselhos,
Não aceitava jamais.
Quantos amigos covardes
Só me passaram pra trás?
Quantos irmãos na igreja
Me deram conselhos demais?
Só que eu não dei ouvidos
Pra não voltar atrás.
Ao insistir pelo mundo
Deus me lançou na prisão,
Foi quando abri os olhos,
Também o meu coração.
E dentro daquela cela
Falei de Deus pros irmãos
E até os que não eram crentes
Também prestavam atenção.
De madrugada acordava
Com os presos me chamando
Precisando de oração
E eu começava a orar
E a força da oração
Fazia tudo acalmar
Só o poder de Deus
Para ali operar.
De manhã cedo acordava
Já eram eles chamando
Pra agradecer a Jesus
Por não sentir aflição
E que a graça alcançava
Com o Alvará de Soltura
Era a ordem de Deus
Trazendo libertação.
Silêncio quebrado
(Francisco Fábio Ferreira)
(Francisco Fábio Ferreira)
O silencio da noite é quebrado
Pela canção de um solitário
Em um lugar tão macabro
É difícil encontrar alguém
Com o coração solidário
Um lugar onde aprendemos
A viver com a solidão
Um lugar onde é difícil o perdão
Um lugar onde sofremos humilhação
Um lugar de pouca satisfação
Onde muitos, tem como companhia
Apenas a solidão
Onde o pouco se torna muito,
Dado de coração
É quando a esperança é vencida
Pela ilusão.
É quando se cria a revolta
Dentro do coração.
Meus atos do passado
Me colocaram aqui dentro
Por isto, estou aqui,
Me redimindo
Passando por este sofrimento.
Pela canção de um solitário
Em um lugar tão macabro
É difícil encontrar alguém
Com o coração solidário
Um lugar onde aprendemos
A viver com a solidão
Um lugar onde é difícil o perdão
Um lugar onde sofremos humilhação
Um lugar de pouca satisfação
Onde muitos, tem como companhia
Apenas a solidão
Onde o pouco se torna muito,
Dado de coração
É quando a esperança é vencida
Pela ilusão.
É quando se cria a revolta
Dentro do coração.
Meus atos do passado
Me colocaram aqui dentro
Por isto, estou aqui,
Me redimindo
Passando por este sofrimento.
Por: Caio César Muniz
caio_muniz@hotmail.com
caio_muniz@hotmail.com
Fonte: omossoroense.uol.com.br/
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