Neste sábado, após mais de nove meses de espera por um aval da Justiça, o médico Adrian Estrada Barber, de 28 anos, casou-se com a farmacêutica Letícia Santos Pedroso, de 42, no cartório de Arapoti, cidade paranaense de 27 000 habitantes. Eles agora vão marcar uma data para a comemoração com familiares e amigos. A união demorou a acontecer porque, como revelou a reportagem,o contrato assinado por Barber em Havana restringia relacionamentos amorosos com estrangeiras e determinava que os integrantes do Mais Médicos pedissem autorização aos chefes da missão cubana no Brasil antes de se casarem.
Um dia depois de tomar conhecimento da situação pelo site de VEJA, o juiz da vara cível de Arapoti, Dawber Gontijo Santos, deu aval à união. Em sua decisão, ele manifestou o mesmo entendimento do Superior Tribunal de Justiça e da Justiça Federal: as restrições impostas pelo regime comunista dos irmãos Fidel e Raúl Castro são fruto de um contrato particular dos profissionais com a empresa estatal Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos S.A., vinculada ao Ministério da Saúde Pública de Cuba, e esse contrato não pode se sobrepor às leis brasileiras.
O contrato, disse o juiz Santos, "tem cunho meramente patrimonial" e por isso "não tem o condão de se impor sobre norma de ordem pública". Não pode, portanto, "subtrair do contraente a capacidade de praticar atos da vida civil" ou ser considerado causa "impeditiva do matrimônio".
O outro médico cubano que se casou no Brasil este mês, Osmany Garber Charadan, de 33 anos, conta que não passou pelas dificuldades enfrentadas por Barber. Instalado com mais oito médicos cubanos em Nova Cruz, cidade de 37 000 habitantes no Rio Grande do Norte, ele relata que em maio o cônsul de Cuba em Salvador, Orelvis Montes de Oca León, responsável pelo região Nordeste, visitou os integrantes do Mais Médicos em Nova Cruz e afirmou que não havia proibições do gênero. "Não fez objeção a nada", diz Charadan
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Diante disso, ele e a noiva, a estudante denutrição Mel Santos, de 20 anos, reuniram a documentação, deram entrada no cartório e oficializaram a união no dia 11 de junho. A cerimônia reuniu treze médicos cubanos, autoridades do governo do Rio Grande do Norte e até o prefeito da cidade, Cid Arruda (PSB). "Eu li o contrato e o que entendi que o que não podemos é abandonar o Mais Médicos. Podemos casar sim, mas temos que concluir o contrato que assinamos em Havana". explica o médico, que conhece mais dois cubanos, na Bahia e em Pernambuco, que também se uniram a brasileiras, e tem outros colegas de casamento marcado.
Nenhum deles, no entanto, está livre de punições. Ao se casar sem autorização,o médico cubano fica sujeito a sanções disciplinares que vão de simples advertência ao corte de 20% do salário anual e, em último caso, à exclusão do Mais Médicos, o que obriga o retorno a Cuba. Já a Constituição brasileira garante o direito a visto de permanência para o estrangeiro que se casar com brasileira em território nacional.
O casamento com estrangeiros sempre foi visto em Cuba como uma maneira de facilitar a saída da ilha. Até as reformas de 2013, obter passaporte e autorização da ditadura castrista para viajar ao exterior era um privilégio para poucos e as punições ainda são duras para quem abandona missões no exterior, uma das principais fontes de renda do país.
Fonte: veja.abril.com.br/
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