Alex Viana
Repórter de Política
Mesmo não fazendo parte dos seus planos para o futuro, a vereadora Júlia Arruda (PSB) admite ser candidata à Prefeitura de Natal em 2016, principalmente se a crise entre o PSB e o governo Carlos Eduardo (PDT) resultar no seu agravamento com a escolha de um candidato a vice-prefeito em detrimento da atual vice-prefeita e presidente estadual do PSB Wilma de Faria. “Estamos para fortalece e crescer, mas hoje não está nos meus planos”, disse Júlia esta manhã, ao explanar sobre o futuro. “Mas, quem sabe futuramente? Estamos para fortalece e crescer, mas hoje não está nos meus planos. Espero que o partido, formado pela maior bancada de vereadores, não tenha sua força subestimada em Natal. E espero que as principais decisões do PSB em 2016 sejam inseridas nesse contexto, compondo chapa e participando desse processo”, disse.
A chegada do PMDB à gestão de Carlos Eduardo traz como desdobramento a antecipação do debate sobre o cargo de vice. Bem avaliado nas pesquisas, os correligionários do prefeito acreditam que ele tem grande probabilidade de se reeleger em 2016. Com isso, se credenciaria para disputar o governo em 2018. Para tanto, terá de renunciar ao cargo, entregando a Prefeitura ao vice. Eis a importância da discussão.
O PMDB, por sua vez, chega ao governo de olho na função. Carlos Eduardo apoiou a candidatura derrotada do presidente estadual do PMDB, Henrique Alves, para o governo do Estado no ano passado. O desembarque do PMDB no governo municipal foi consequência lógica deste apoio. Inicialmente, o partido chega ocupando espaços consideráveis como a Secretaria de Turismo e a Secretaria de Habitação. No entanto, para aplacar o desejo das instâncias internas do partido, o PMDB poderá exigir a indicação do vice. Usa como moeda de troca a retirada de candidatura própria ao governo municipal.
Nesse contexto, se enfraquece a proposta do PSB permanecer no cargo. Enfraquecida politicamente e vinda de duas derrotas consecutivas em eleições para o Senado, a principal líder do PSB, Wilma de Faria, que também enfrenta uma bateria de denúncias do Ministério Público por corrupção, poderá ser preterida na composição. A partir daí, especula-se, o PSB estaria aberto a novas composições ou mesmo candidatura própria.
É nesse contexto que a fala de Júlia Arruda ganha relevo. Sem a vaga de vice de Carlos Eduardo, o que impediria o PSB de compor com outro grupo ou partir para candidatura própria? A própria Júlia Arruda avalia: “O partido é formado por pessoas que podem sim ser candidatas, se a gente está no partido, pode sim, diz.
Júlia Arruda não deixa margem para dúvida: hoje, o PSB é, sim, aliado do prefeito Carlos Eduardo Alves. Com sua bancada expressiva de quatro vereadores – inclusive o presidente da Câmara, Franklin Capistrano, é do PSB -, o partido soma uma força política considerável, que não pode, ela deixa nas entrelinhas, deixar de ser prestigiado em qualquer composição política.
Apesar disso, a própria Júlia admite, o PSB é também um partido que está acabrunhado, dividido, sem comunicação e articulação interna. Tudo graças ao silêncio e a postura retraída da líder maior da legenda, Wilma de Faria. Além das derrotas e dos processos judiciais, Wilma enfrenta a ameaça real de perda do comando do PSB, já que a legenda não conseguiu atingir no RN a meta de votos na eleição de 2014.
Analisa Júlia Arruda: “Hoje o PSB integra a gestão de Carlos Eduardo. Temos visto em algumas oportunidades e entrevistas algum descontentamento de Wilma em relação a desprestígio. Mas ela não procurou nem se reuniu com os vereadores e deputados do PSB para tratar essa temática. Na Câmara Municipal, os quatro vereadores damos apoio à base de sustentação do prefeito. Mas, daqui para frente, precisamos sim discutir quais os rumos do PSB para 2016 porque não sabemos. Ainda não tivemos nenhuma reunião em nível de partido. Mas esperamos que possamos caminhar juntos com essa aliança que começamos a construir”, diz.
Pressionada pela reportagem a se posicionar frente a cenários futuros, Júlia disse não ter propriedade para falar em nome do PSB porque hoje Wilma é quem toma as decisões “e muitas vezes precisa escutar os vereadores para ter um posicionamento fechado do partido, precisa ouvir”. E conclui: “O fato é que o PSB está passando por uma fase de transformação, nacionalmente e aqui no Estado. Para se oxigenar, o partido deve estimular a participação dos movimentos sociais, agregar e pensar em valorização e fortalecimento”, disse.
Júlia Arruda reconhece a boa avaliação de Carlos Eduardo. No entanto, assuntos do partido devem ser prioritários e por isso ela apela indiretamente a Wilma, que se tem suas insatisfações que socialize dentro do PSB para que haja união da legenda e tomada de posição conjunta. “O partido tem que dialogar, acima de tudo. A realidade é que integra a gestão, faz parte de uma administração bem avaliada, que traduz o que a população espera. Tanto que os quatro vereadores dão apoio à base de sustentação. Mas se tem insatisfações pontuais em relação a Wilma, precisamos compartilhar essa insatisfação, e não apenas ficar centralizado, tem que ser participação partidária. Sou favorável ao diálogo, mas tem que acompanhar a tendência nacional de reestruturação e formação do partido. De valorizar e divulgar o trabalho nas bases, associando-se com o trabalho dos movimentos sociais e após isso pensar no pleito”.
“Qualquer um do PSB pode galgar outros patamares”
A vereadora Júlia Arruda, que põe seu nome à disposição do PSB para projetos futuros, aponta a existência de outros nomes na legenda capazes de, segundo ela, “galgar outros patamares” na política de Natal e do Rio Grande do Norte. “Bom, em primeiro lugar, quero dizer que fico surpresa com essa possibilidade de candidatura e que oficialmente não passa de especulação. Mas acho que de fato o partido é formado por pessoas qualificadas, que agregam ao partido, como Franklin Capistrano, que assumiu a presidência da Câmara, Júlio Protásio, eu a deputada Márcia Maia, o deputado Tomba Farias. Ou seja, o partido não é feito de uma pessoa, mas por um conjunto de pessoas, além da militância, e, por que não, qualquer um pode galgar outros patamares”, afirmou a vereadora.
Júlia reforça que sua condição hoje é de se candidatar à reeleição. “Hoje a minha expectativa é a minha reeleição. Vamos entrar no jogo sem saber as regras do jogo, por isso devemos redobrar os esforços para ter sucesso. Sou favorável a que o partido possa se fortalecer e começar uma campanha de filiação, manter os atuais mandatos e aumentar a representação na Câmara e quem sabe aumentar”, disse a vereadora.
Júlia disse, por fim, desconhecer a existência de projetos individuais dentro do PSB, ou algo que fuja do estabelecido que é a parceria com Carlos Eduardo. “Não sei se o partido tem algum projeto individual, algo que fuja do que está estabelecido que é parceria com Carlos Eduardo. Na semana passada tivemos uma reunião eu, Claudio Porpino, Márcia Maia, com alguns filiados da executiva municipal, para discutir construção de uma agenda e o projeto que passa por essa reestruturação do partido. Hoje meu projeto é esse”.
Protásio: “Candidatura de Júlia a prefeita de Natal é o fato novo”
Ex-líder do prefeito Carlos Eduardo Alves na Câmara Municipal de Natal, o vereador Júlio Protásio (PSB) disse hoje que a admissão de candidatura por parte da vereadora Júlia Arruda se constitui num “fato novo” e que irá aguardar as discussões deste fato nas instâncias partidárias.
“Fato novo. Não conhecia esse cenário. E estarei atento a escutar nas instâncias partidárias esse fato de candidatura própria. Hoje sei que o partido é aliado e faz parte da administração de Carlos Eduardo e estaria comprometido com a administração dele. Se vai mudar eu preciso ser informado”, disse o vereador.
Segundo Júlio, até agora ninguém do PSB disse que desejaria disputar a prefeitura ou a vice. “Não escutei a professora Wilma, que é a líder maior, nem outro componente do partido se posicionando nesse sentido”, afirmou.
Para o vereador, a presidente do PSB, Wilma de Faria, deverá se posicionar a respeito do desejo de manter-se como vice na provável próxima candidatura de Carlos Eduardo em 2016. “Não tenho como me posicionar acerca desse comentário de que a vice-prefeitura não é do PSB na próxima candidatura de Carlos porque Wilma não comunicou aos detentores de mandato, à militância do partido, se deseja ser candidata a vice ou se não deseja”, disse o pessebista.
Instado a dar sua opinião, Júlio disse que esta está condicionada ao posicionamento oficial de Wilma de Faria. “Condiciono. Ela tem que dizer. Se vai disputar a vice, se a vereadora, se a nada. A partir dessa construção o partido vai se posicionar”.
Júlio Protásio disse, entretanto, que o PSB precisa definir o arco de aliança para o próximo pleito. “E definido o arco de aliança, definir com os partidos quem são os candidatos, quem é que vai indicar o vice-prefeito”. Para ele, “nenhum partido é dono de uma posição antes de dialogar com os demais. Estamos indo para uma candidatura que se torce para ter PDT, PMDB e PSB, partidos que vão compor a aliança e precisa ser dialogada essa posição de quem vai indicar o vice-prefeito”, afirmou.
Fonte: JH