quarta-feira, 12 de junho de 2013

Ex-missionário pede aval do Papa, larga igreja e se casa em Cuiabá

Após 15 anos de vida religiosa, ex-missionário se casou com mato-grossense.
União na igreja precisou de autorização do Papa para ser validada.



Dia dos Namorados - ex-seminarista (Foto: Dhiego Maia/G1)
Casal está junto há cinco anos e tem uma filha
(Foto: Dhiego Maia/G1)
Um missionário paranaense radicado na Itália largou 15 anos de trabalhos dedicados à igreja católica para se casar com uma mato-grossense que conheceu pela internet. A história que mais parece ter sido criada para uma novela é o enredo da vida de Roberto Dembiski e Andréia de Fátima. Juntos há cinco anos em Cuiabá, o casal diz que vai comemorar nesta quarta-feira (12), pela quinta vez, o ‘Dia dos Namorados’ com a mesma sensação do primeiro encontro.
Para concretizar a união, no aspecto religioso, o casal precisou receber uma autorização do então papa Bento XVI. Roberto explica que quando optou pela carreira religiosa, quando tinha 18 anos, fez três votos. Entre eles, o da castidade. Para se casar na igreja com Andréia, o voto precisou ser rompido.
Ex-religioso da Ordem Missionária Servos dos Pobres, em Curitiba (PR), Roberto diz que viveu 15 dos 38 anos de vida com muito pouco. Ele resume o período com um lema católico. “Religiosos não têm nada, mas possuem tudo”. Intramuros, Roberto prestou assistência aos seminaristas da ordem, fez sepultamentos, tinha um programa de rádio e participou de missões religiosas.
Para não viver uma vida dupla, com uma história na igreja e outra no mundo, eu decidi sair"
Roberto Dembiski, ex-seminarista
O sinal de que a carreira religiosa não estava nada bem acendeu quando ele recebeu uma proposta para repensar a própria vida em Palermo, na Itália, local onde surgiu no século 19 a ordem religiosa à qual ele pertencia. “A vida religiosa é uma vida consagrada que precisa ter os votos sempre renovados com oração, trabalho, estudo e lazer. Quando eu percebi que esses pilares que a sustentam não estavam bem eu passei a questionar a minha decisão”, afirmou.
O sonho de viver no país-sede da igreja católica, para Roberto, foi a gota d’água para ele largar de vez a vida reclusa. “Eu estava preso e bastante desmotivado na Itália. Não tinha lá a mesma vida que tinha no Brasil. Para não viver uma vida dupla, com uma história na igreja e outra no mundo, eu decidi sair”, revela.
Andreia só descobriu semanas depois que Roberto era religioso. “Um dia ele escreveu que queria largar a batina. Eu levei um choque e fiquei dois dias sem ligar o computador”, revela. Andréia contou ao G1 que o maior problema do namoro virtual ocorreu quando Roberto decidiu pôr fim às conversas. “Ela estava exigindo demais, levando muito a sério a situação. Disse que em Cuiabá eu teria emprego e poderia morar nos fundos da casa da mãe dela. Eu nem conhecia Cuiabá”, disse Roberto.A milhares de quilômetros dali, Andréia, então com 21 anos, seguia uma vida normal em Cuiabá. Secretária de um escritório, a jovem sonhava em encontrar alguém que a fizesse feliz, mas nunca imaginou que o meio para isso seria o virtual. “Uma amiga que hoje é madrinha do nosso casamento fez um cadastro em um site de relacionamento. No começo, eu achava muito estranho, mas passei a conversar com várias pessoas e num belo dia recebi o convite do Roberto pedindo para eu adicioná-lo”, conta.
Dia dos Namorados - ex-seminarista (Foto: Roberto Dembiski/Arquivo pessoal)
Roberto deixou de ser seminarista e decidiu se
casar (Foto: Roberto Dembiski/Arquivo pessoal)
“Eu chorei demais e também fiquei bastante revoltada porque eu propus esperar todo o processo que ele tinha que fazer para deixar a vida religiosa. Eu não saía mais por conta dele e até ali eu entendia que a gente estava namorando de forma séria”, completou Andréia.
No dia seguinte, Roberto pediu desculpas a Andreia e decidiu voltar ao Brasil para se casar com ela. Com a carta de renúncia endereçada ao Papa, Roberto fez as malas e seguiu para a casa dos pais e, em seguida, para Cuiabá. Na capital de Mato Grosso, Roberto conseguiu emprego e esperou a liberação da igreja para selar a união no religioso com Andréia. O documento só foi autorizado pelo Papa em julho de 2009. Um mês depois, o casal subiu ao altar para a celebração do casamento.
Roberto afirmou à reportagem do G1 que se manteve virgem até poucos meses antes de se casar com Andréia, quando tinha 33 anos de idade. Advindo de uma família tradicionalmente católica, o ex-missionário não se arrepende da opção que fez ao permanecer 15 anos na igreja. “Toda a vida da gente é feita de etapas e cada etapa é preciso ser vivida da melhor forma. Naquele momento eu aproveitei o máximo, mas quando vi que não estava bem, eu decidi sair”, revelou.
Atualmente, Roberto trabalha com empreendimentos da construção civil e cursa administração. Andréia é cabeleireira e estuda psicologia. O casal tem uma menina de quatro anos e sonha em ir à Itália. “Eu faria tudo de novo por ele. Mas eu recomendo que as pessoas tenham cuidado ao usar a internet para se relacionar. A nossa história é uma em um milhão que deu certo”, ponderou Andréia.
Fonte: g1.globo.com

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