O jornalista Paulo Henrique Amorim divulgou nesta quarta-feira (1) entrevista feita por ele com o deputado federal Orlando Silva (PCdoB). O deputado defende proposta do partido que sugere que a Presidenta Dilma encaminhe ao Congresso Nacional uma proposta de realizar eleições para presidente antes de 2018. E, segundo o entrevistado, esse movimento de Dilma deve se antecipar à definição pelo Senado do processo de impeachment.
Foto: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados
Confira a entrevista:
PHA: Eu vou conversar agora com o deputado Orlando Silva, do PCdoB de São Paulo.
Deputado, eu gostaria de ter a sua opinião sobre um artigo publicado, aqui no Conversa Afiada, pelo deputado do PCdoB e ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima. Ele sugere que é possível que seja revista a votação do impeachment da Presidenta Dilma no Senado e que, nesse processo de rever a decisão, a Presidenta Dilma deveria encaminhar uma proposta de realizar eleições para presidente antes de 2018.
Essa é uma posição do PCdoB ? É uma posição que o senhor defende também?
ORLANDO SILVA: Sim. Em primeiro lugar, eu quero dizer que nós tínhamos convicção de que é possível, no julgamento de mérito do Senado, nós revertermos o afastamento da Presidenta Dilma. Muitos senadores, sete ou oito, quando se pronunciaram admitindo o julgamento do impeachment no Senado, já anteciparam que ali não era uma posição sobre o mérito. Era sobre a admissibilidade, em função da decisão da Câmara, por conta do mérito. Eles deveriam avaliar o mérito. Então, há um espaço para que, no julgamento definitivo, nós consigamos adesão de outros senadores e impeçamos que eles alcancem o quórum de 54 senadores e, desta maneira, a Presidenta Dilma retorna ao exercício legítimo de seu mandato.
Agora, nós acreditamos também que não bastará apenas ela voltar. Nós vamos lutar para que ela volte. Mas acreditamos que a dimensão da crise econômica e política - e, aliás, é a política o dínamo da crise econômica do Brasil hoje - é tamanha que a Presidenta, ao voltar ao exercício do mandato, poderá propor o plebiscito e o povo decidir sobre a antecipação ou não das eleições. E esse gesto da Presidenta, de propor o plebiscito, pode ser um fator decisivo para as mudanças de posição de alguns senadores. Por isso nós defendemos o plebiscito sobre antecipação das eleições.
É um processo em que já há um projeto de lei do deputado Domingos Neto (PSD-CE) tramitando na Câmara. É apenas uma votação, em turno único. No Senado, uma votação em turno único. E já temos 30 senadores que se manifestaram favoravelmente à ideia. Portanto, é uma saída política, em que nós preservamos a legitimidade da Presidenta Dilma, reconhecemos a dimensão da crise e, a partir daí, colocamos para a soberania popular decidir o rumo do país. Decidir, inclusive, sobre a antecipação de eleição. E decidir, com o voto na eleição, a constituição de um Governo renovado, com mais força política.
PHA: Mas tem aí um problema de cronologia, deputado, que eu gostaria que o senhor esclarecesse. A Presidenta Dilma deve propor a antecipação da eleição DEPOIS de ter sido vitoriosa na segunda votação do Senado, ou ANTES, para permitir que seja vitoriosa na votação no Senado?
ORLANDO: Eu considero que ... antes. Já há um diálogo no Senado, na Câmara dos Deputados, e há um diálogo com os movimentos sociais, em torno dessa matéria. A decisão da Presidenta, que é uma decisão dela, de propor esse plebiscito, pode ser o gesto para mobilizar o apoio de alguns senadores. Sobretudo agora que eles estão mais inconformados. Há senadores que tinham dúvidas sobre a juridicidade do afastamento da Presidenta. Tinham dúvidas sobre o mérito do processo de impeachment. Mas esses que tinham dúvidas já tem hoje certeza de que esse Governo, além de ilegítimo, ele é incapaz de construir uma solução política e econômica para a crise brasileira. Ao contrário. O Governo interino é produtor de mais instabilidade política e instabilidade econômica. A cada semana, a saída de ministros é apenas um indicador que ele nos dá. Portanto, eu creio que a Presidenta, antecipadamente, apresentando essa sugestão, pode facilitar a mobilização de mais apoio em torno dessa ideia.
PHA: Existe algum indício de que ela concorde com isso?
ORLANDO: Ela tem sido aconselhada por muita gente. Não sei se em algumas reuniões com líderes partidários... Na semana passada, praticamente todos os senadores que votaram contra o impeachment estiveram com a Presidenta e levantaram essa hipótese. Quase todos falaram sobre isso. Há entidades no movimento social que têm sugerido este tema. O esforço é construir um consenso numa saída política. Agora, claro, isso exigirá uma unidade política com a Presidenta e com a sociedade civil que se levantou em defesa da democracia, porque não pode ser uma saída isolada.
PHA: A rejeição à admissibilidade no Senado contou com o apoio, não só do PT, mas também do PCdoB, claro. E esse movimento tem contado, desde a Câmara, com o apoio do PSOL e do PDT, em parte.
ORLANDO: A grande parte do PDT na Câmara. E no Senado, o PDT se dividiu. Além do Requião, senador Requião do PMDB, e senador João Alberto do PMDB, que também estiveram conosco.
PHA: E também tem o senador Capiberibe, do PSB, do Amapá. Eu pergunto: esses outros partidos que formam, digamos assim, um núcleo de apoio à presidenta... Esses outros partidos, na sua avaliação, agora, acompanhariam essa posição, de ela sugerir a antecipação ANTES da segunda votação no Senado ?
ORLANDO: Olha, o que eu sei, em conversas com lideranças políticas do PT, do Partido dos Trabalhadores, é que há muita dúvida no Partido dos Trabalhadores. Talvez seja o PT hoje o principal partido da base de apoio à Presidenta Dilma que resista a esse esforço de construir uma saída política. Nós temos uma diferença. É porque eu acredito que nos meios políticos, e mesmo na sociedade, os que defendem a democracia têm a consciência de que não basta apenas restabelecer a ordem anterior ao afastamento da Presidenta. É necessário nós construirmos uma saída política que garanta legitimidade, que garanta a democracia, mas dê perspectiva para saída da crise. É em torno dessa visão que nós temos procurado construir uma posição.
PHA: O PT não se sensibiliza nem com o fato de que o Ibope já mostrou que, entre os jovens, o apoio à eleição já é de 70% e, no conjunto da população, é de 62%?
ORLANDO: Esse é um dos argumentos que nós temos levantado, que há um apoio popular e um apoio que você percebe nas ruas. Sobretudo muita gente que já se decepcionou. Porque uma coisa era criticar a presidenta Dilma. Outra coisa é ver, assistir, a tomada do poder político no Brasil pelas lideranças que hoje ocupam o Palácio do Planalto. Então, esse é o debate nosso com o Partido dos Trabalhadores e eu espero que eles compreendam. Nós, do PCdoB, defendemos com muita firmeza a democracia, o mandato da presidenta Dilma. Mas nós temos que ter responsabilidade e construir uma saída política e econômica para a crise do Brasil.
Fonte: www.vermelho.org.br/
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