Bodó, na região Central, terá o maior ganho entre todos: um incremento de 251,7% no índice que serve de base para o repasse da cota-parte do tributo. No comparativo com 2012, período anterior à chegada das eólicas, Bodó pula do 133º lugar no ranking do ICMS para a 24ª posição. Outro município nessa situação é Parazinho, que sai do 80º para o 36º lugar. Bodó tem 2.358 habitantes; Parazinho 5.173. No ICMS, os dois ficarão à frente de Extremoz, município com vocação industrial, com 27,5 mil habitantes; e de Goianinha (25,2 mil), cuja economia tem como base a cana-de-açúcar.
Júnior SantosEnergia eólica está mudando a economia de pequenas cidades como Parazinho, que pula do 80º lugar para a 36ª colocação no ranking estadual do ICMS
Da arrecadação total do ICMs, 75% ficam com o governo do Estado e os 25% restantes são rateados entre os municípios. O índice de distribuição é obtido através de um cálculo complicado. Toma por base a média da atividade econômica de dois anos, que tem peso de 75% na composição do índice; o número de habitantes (5%) e a área geográfica do município (5%). Os outros 15% são distribuídos de forma igualitária.
Para a definição do índice de 2016, a Secretaria Estadual de Tributação levou em conta a atividade econômica do período compreendido entre janeiro de 2013 e dezembro de 2014. Daí porque os resultados ainda não aparecem em São Gonçalo do Amarante, cidade que hoje abriga o Aeroporto Internacional Aluízio Alves. Em relação a 2015, a fatia do tributo destinada aquele município será menor (-7,8%) no próximo ano.
Se as "cidades eólicas" dominam a parte de cima do crescimento do ICMS, na de baixo estão as agrícolas e as produtoras de petróleo. As agrícolas enfrentam o quarto ano de seca, enquanto as petroleiras amargam redução no repasse de royalties em função da queda de preços do barril no mercado externo e também do redirecionamento das atividades da Petrobras, que passou a dar mais atenção ao Pré-Sal.
O aumento da atividade econômica — leia-se consumo, prestação de serviços, geração de empregos etc. — traz para a mesa dos debates uma antiga discussão sobre o sistema tributário do setor elétrico brasileiro. Assim como o petróleo, a cobrança do imposto é feita no destino final e não na origem. Isso significa dizer que a energia gerada em Rio do Fogo, João Câmara, Parazinho e tantos outros municípios do RN vão fortalecer a economia de centros de maior poder aquisitivo, como Natal, Recife, Rio e São Paulo.
Para os críticos do sistema atual, os municípios produtores de energia geram riquezas para os outros em troca de algumas dezenas de empregos e uns trocados para os donos de terras.
"Se uma pessoa acende uma lâmpada em São Paulo, ela está contribuindo para aumentar a arrecadação daquele Estado, mas a fonte gerada, que arca com o ônus da produção, não será beneficiada", lembra o consultor especialista em energia, Jean-Paul Prates, diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), e suplente da senadora Fátima Bezerra (PT).
Mas, na opinião de Prates, não é justo dizer que a atividade eólica não recolhe impostos para as cidades que lhes dão abrigo. “Apenas o imposto sobre a geração elétrica é que, por norma constitucional, acaba indo para o Estado consumidor da energia. Mas todos os demais impostos estaduais e municipais sobre qualquer atividade econômica, compras e serviços contratados ou executados pelos empreendedores é sujeito à tributação usual.”
Mesma posição tem o ex-presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte e atual prefeito de Lajes, Benes Leocádio. “O incremento no ICMS não será passageiro porque a maioria dos contratos desses parques tem prazos que giram em trono de 25 a 30 anos.
No Rio Grande do Norte existe hoje 117 empreendimentos em operação, gerando 2.803.660 kW de potência, 27 estão em fase de implantação e outros 72 aguardam a emissão das licenças para iniciar as obras.
Fonte: Tribuna do Norte
Prefeito estuda mudanças no rateio do tributo
Até 2009, a cota-parte do ICMS era rateada entre os municípios da seguinte maneira: 80% referentes a atividade econômica, 10% levando em conta o número de habitantes e outros 10% distribuídos em quantias iguais. Em 2010, com a entrada em vigor da chamada Lei Robin Hood, a fórmula mudou. 75% atividade econômica, 15% equitativamente, 5% fator população e 5% área territorial. A mexida na fórmula tirou dinheiro dos ricos para os mais pobres, daí o Robin Hood da lei aprovada pela Assembleia Legislativa.
Um nova mexida está em fase embrionária. Mas, ao contrário da anterior, não tira dinheiro dos ricos, garante o prefeito de Lajes, Benes Leocádio. “A proposta não mexe no valor adicionado”, diz ele, lembrando que pretende levar o tema para a mesa de discussão na Assembleia legislativa. “O deputado Raimundo Fernandes ligou querendo saber dos detalhes.” Apesar da Robin Hood, Natal, Mossoró e Parnamirim – recebem hoje 40,9% dos recursos, enquanto 96 das cidades com população abaixo de 10 mil habitantes ficam com 14,4%.
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