domingo, 18 de outubro de 2015

Escoteiros sírios se reinventam para ajudar deslocados por guerra civil

Susana Samhan
Em Beirute
  • Divulgação
    A organização "Scouts of Syria" (Escoteiros da Síria) passou a ajudar refugiados. Na foto, membros da instituição ensinam crianças a ler e escrever
    A organização "Scouts of Syria" (Escoteiros da Síria) passou a ajudar refugiados. Na foto, membros da instituição ensinam crianças a ler e escrever

Eles sobrevivem desde a época do Império Otomano e não querem que o conflito na Síria represente a extinção do grupo, e por isso os escoteiros sírios se reinventaram para ajudar os deslocados internos vítimas da guerra.

"Renovar-se ou morrer" é o dilema que a organização "Scouts of Syria" (Escoteiros da Síria) tem enfrentado há mais de quatro anos, nos quais passaram de 18 mil membros a 6.000 atualmente.

"Por conta da difícil situação, estamos ajudando à sociedade porque é nosso dever", contou à Agência Efe, por telefone, o presidente da organização, Abd Rabaa.

Seu principal trabalho agora é oferecer assistência aos deslocados internos, que perderam suas casas. Em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), eles ajudam as famílias deslocadas a se integrar nas comunidades de amparo.

Divididos por idades, Rabaa explica que, hoje em dia, a maior parte dos escoteiros tem entre 12 e 16 anos, e alguns na faixa dos 8 a 11 anos.

"Tivemos problemas com os mais velhos, os de 17 a 23 anos, porque muitos emigraram", contou.

No entanto, em uma das cidades mais assoladas pela violência no país, Aleppo, a equipe ainda tem 2 mil membros e um campo para formar 450 "meninas guias". Os Escoteiros da Síria tem integrantes de ambos os sexos e possui uma organização irmã, a "Girls Guides", exclusiva para elas.

Rabaa garante que nos dois grupos não há distinção por religião, já que "aceitam todos os sírios independentemente de seu credo". Seu lema é o mesmo do Movimento Internacional de Escoteiros: "Pensar global e agir local", a diferença é que não podem atuar em todo o país, "apenas nas zonas seguras".

Hoje, o grupo está presente nas áreas com controle governamental em Damasco, Latakia, Tartús, Aleppo e As-Suwayda, também conhecida como Sweida.

"Por causa do conflito, reformulamos a forma de trabalhar, reconstruímos nossas capacidades e mudamos", acrescenta o chefe dos exploradores sírios.

Um exemplo dessa reformulação é que aquele que antigamente era um de seus maiores campos de treinamento, o de Al-Zabadani, nos arredores de Damasco, já não pode mais ser usado por conta dos enfrentamentos.

Na maior parte do ano, os escoteiros sírios se reúnem semanalmente, durante o verão os intervalos diminuem e os encontros passam a ser diários.

Rabaa detalha que seu trabalho tem um importante componente psicológico, porque ele atua para reduzir o impacto que a violência provoca em cada criança e adolescente e também para dar ferramentas para o desenvolvimento pessoal de cada um deles. A organização, financiada através da contribuição de parceiros, recebe, de vez em quando, fundos de patrocinadores.

"Existimos há mais de 100 anos e queremos continuar, sempre melhorando", diz Rabaa.

Durante este século de existência, o grupo esteve exposto ao vai e vem político da região. Nasceu em 1912 como uma Federação de Associações de Escoteiros no que hoje é o Líbano e a Síria, na época do Império Otomano (1299-1923). Na década de 40, os escoteiros sírios e libaneses se separaram após a independência de seus respectivos países.

Nos anos 80, os Escoteiros da Síria deixaram de funcionar e só voltaram às atividades depois da ascensão do presidente Bashar al Assad, em 2000.

Rabaa prefere não entrar em detalhes sobre os motivos dessa suspensão dos trabalhos, que algumas fontes atribuem a razões administrativas e outras dizem ter sido pela situação política daquele momento.

Neste ano, foi a primeira vez em três décadas que eles participaram da reunião internacional de escoteiros. Realizada no Japão, em agosto, Rabaa destaca que o grupo foi para dizer que a Síria continua viva.

Ele, que já se tornou pai e entrou para o time aos oito anos, não concebe sua vida sem os escoteiros.

"É uma tradição. Meu tio e meu pai também foram", lembra o presidente da organização síria, que conheceu a mulher, da província litorânea de Latakia, durante um encontro de escoteiros na Turquia.

Agora, sua filha de três anos vai com ele às reuniões.

"Como pai, acho que é algo bom. As crianças encontram ferramentas para desenvolver a personalidade e se integrar à sociedade". 
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Membros do Scouts of Syria posam para foto em grupo
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Fonte: noticias.bol.uol.com.br/

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