quarta-feira, 24 de junho de 2015

Excursão internacional de 1973: ABC vive epopeia ao redor do mundo

Punido pela extinta CBD, Alvinegro excursiona pela Europa, Ásia e África com a "forcinha" de João Havelange. Time disputou 24 amistosos em nove países


O ano era 1973. No auge do regime militar, o Palmeiras era o atual campeão brasileiro de futebol, mas era a figura de Emerson Fittipaldi, campeão da Fórmula 1, que surgia como ídolo nacional. Para a população do Rio Grande do Norte, o ícone esportivo era o Clube do Povo, o ABC. Tetracampeão estadual à época, o Alvinegro se viu diante do que seria a maior excursão internacional de um time brasileiro, segundo o Livro dos Recordes. Foram 102 dias fora do Brasil - há quem aponte 104, 108 e até mesmo 112, totalizando as viagens de ida e volta -, com muitas dificuldades, histórias, causos e alegrias. No retorno a Natal, uma festa digna de campeões e uma emoção sem tamanho tomou conta de todo o grupo. Este é um dos capítulos mais marcantes da história do Mais Querido, que completa 100 anos no próximo dia 29 de junho.
Excursão do ABC - mapa (Foto: Thiago Assis/Editoria de Arte)Equipe do ABC jogou em nove países ao longo da excursão (Foto: Thiago Assis/Editoria de Arte)
O ABC tinha no elenco grandes jogadores como Danilo Menezes, Alberi e Jorge Demolidor, além da dupla de zaga composta por Telino e Edson, o capitão e líder daquela equipe vencedora. O homem que levantou quatro taças em anos anteriores embarcou com seus companheiros para fazer história com a camisa do Mais Querido. Os jogos foram realizados em nove países - Turquia, Grécia, Romênia, Iugoslávia, Tanzânia, Uganda, Somália e Etiópia (veja mapa ao lado). Em 24 amistosos, conquistou sete vitórias, empatou 12 vezes e sofreu cinco derrotas.
Entretanto, o motivo de tal expedição não foi dos mais nobres. Por ter escalado três jogadores de forma irregular no confronto contra o Botafogo, no antigo Castelão, em partida válida pelo Campeonato Nacional de 72, o clube foi suspenso por dois anos de participar de qualquer competição organizada pela extinta Confederação Brasileira de Desportos - atual CBF. Edson classificou a punição imposta ao ABC como "um golpe duro" ao elenco abecedista. Mas não houve muito tempo para lamentações, pois logo depois a excursão por três continentes foi anunciada.
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A epopeia alvinegra só foi possível graças à amizade de João Machado, então presidente da Federação Norte-rio-grandense de Desporto, com João Havelange, presidente da CBD e chefão do futebol brasileiro. O empresário Elias Zacour foi o responsável por toda a logística, enquanto Jácio Fiúza e José Prudêncio Sobrinho chefiavam a delegação. No dia 25 de agosto daquele ano, os 18 jogadores que faziam parte da delegação, além do técnico Danilo Alvim, o preparador físico Sebastião Cunha, o médico Sérgio Lamartine, o massagista Zózimo Nascimento e os já citados Jácio Fiúza e Prudêncio Sobrinho embarcaram para o Rio de Janeiro, de onde partiriam rumo a Paris, dando início à aventura.
Elenco do ABC posando para foto em jogo em Kampala, na Uganda (Foto: João Telino/ Acervo Pessoal)Elenco do ABC posando para foto em jogo na cidade de Kampala, em Uganda (Foto: João Telino/Acervo Pessoal)

Fora de campo, tirando o idioma, visto que a delegação foi acompanhada de um intérprete, os adversários mais difíceis foram a culinária estrangeira e, principalmente, a saudade dos familiares no Brasil. O zagueiro Telino revelou que lidou com a situação numa boa, e que alguns jogadores sofreram mais com a distância do que outros.
- Foi uma barra para muitos colegas, pois muitos eram recém-casados, outros estavam para casar, e a gente nunca pensou que passaria mais de três meses fora. Mas para mim, não. Eu era solteiro, tinha 25 anos, foi uma tranquilidade. Por mim eu ainda estaria por lá, não faria questão de voltar, não - declarou.
Diferentemente de hoje em dia, onde as redes sociais facilitam a comunicação entre as pessoas, naquela época era muito difícil se comunicar com alguém que estivesse além do Atlântico. 
- Quando anunciavam que tinha telefonema ou carta do Brasil, era uma correria - revelou Edson. 
Naquele tempo, alguns poderiam não prever que a excursão feita pela equipe alvinegra marcaria a história do clube, mas todos sabiam que, de tão extensa que foi, só poderia render boas histórias. 
Fonte: globoesporte.globo.com/

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