sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Hospital Walfredo Gurgel ficará sem ortopedista a partir do dia 22

Sesap quer manter dois profissionais por plantão, mas médicos se recusam




Com isso, durante as festas de fim de ano, Natal e Ano Novo, período crítico em que a emergência do Hospital aumenta a demanda de pacientes, o Hospital poderá ficar sem plantonista no setor de ortopedia. Foto: Arquivo
Com isso, durante as festas de fim de ano, Natal e Ano Novo, período crítico em que a emergência do Hospital aumenta a demanda de pacientes, o Hospital poderá ficar sem plantonista no setor de ortopedia. Foto: Arquivo

Roberto Campello
Roberto_campello1@yahoo.com.br

O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, maior unidade hospitalar do Rio Grande do Norte e referência no atendimento de pacientes politraumatizados, ficará sem atendimento ortopédico a partir das 19 horas do próximo dia 22 de dezembro. Isso porque a direção do Hospital não conseguiu fechar a escala de plantão com, pelos menos, três profissionais por plantão. Diante do déficit de profissionais e da ameaça da suspensão do atendimento ortopédico no Walfredo Gurgel, a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) juntamente com a direção do Hospital refizeram a escala de plantão para garantir o atendimento até o final do mês, mas, em alguns dias, com apenas dois médicos de plantão.
No entanto, os 22 ortopedistas que trabalham na unidade seguirão uma recomendação do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern) e não aceitarão a nova escala proposta pela Sesap. Com isso, durante as festas de fim de ano, Natal e Ano Novo, período crítico em que a emergência do Hospital aumenta a demanda de pacientes, o Hospital poderá ficar sem plantonista no setor de ortopedia. Na manhã desta sexta-feira (13), os ortopedistas do Walfredo Gurgel, Djalma Carlos, Edson Borges, Tiago Almeida, Marcílio Mariano detalharam a situação de funcionamento da ortopedia do hospital.
De acordo com o ortopedista Djalma Carlos, que trabalha há 22 anos no Hospital Walfredo Gurgel, conta que o problema da falta de profissionais vem se arrastando ao longo dos últimos anos. Nos últimos dois anos, houve o afastamento de 15 médicos ortopedista do Hospital Walfredo Gurgel, por aposentadoria ou pedido de exoneração, mas não houve reposição desses profissionais.
“Tínhamos certa quantidade de ortopedistas para realizar um determinado número de procedimentos. Hoje, temos a metade desses profissionais que realizam duas ou mais três mais trabalho. A escala dos ortopedistas, comumente, durante a semana, nos últimos meses, chegou a ter apenas um profissional. Este mês, optamos por fazer uma escala com três profissionais, mas o atendimento só chegará até o dia 22. Nesse período conversamos com a direção e com a Sesap, mas não tem uma posição definitiva”, afirmou Djalma Carlos.
O ortopedista Djalma Carlos conta que os profissionais entraram em contato com o Conselho Regional de Medicina e foram orientados a trabalhar com, pelo menos, três plantonistas na porta de entrada do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, o que ainda não seria suficiente se for levado em consideração a demanda do serviço, pois o recomendado pelo Cremern seriam cinco profissionais por plantão, tal como acontece no Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena.
“Fizemos uma escala com três médicos, mas nem a direção, nem a Sesap quiseram receber a nossa escala e fizeram uma nova escala aleatória, sem consultar nenhum dos médicos, com horário com dois e com três. Dia 22 está se aproximando e não estamos vendo nenhuma mobilização da Sesap para resolver esse problema. Do jeito que está estamos impossibilitados de tirar licença médica, férias, participar de congressos e até mesmo adoecer, pois se um se ausentar vai sobrecarregar os demais e não atender a demanda. Hoje, se tiver um profissional lá e chegar um acidente com ônibus, trem ou até mesmo um carro com mais de três pacientes politraumatizados, vai ter que escolher quem atender primeiro. É uma irresponsabilidade do gestor deixar apenas dois profissionais na porta de entrada do Hospital do porte do Walfredo Gurgel”, destacou. O ortopedista Edson Borges conta que alguns médicos estão trabalhando doentes para não “furar” a escala.
O ortopedista do Hospital Walfredo Gurgel trabalha na porta de entrada do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, fazendo o primeiro atendimento, além das cirurgias ortopédicas, quando necessárias, sala de gessos, acompanhamento dos pacientes internados nas enfermarias e qualquer intercorrência do Hospital.  “A escala que vamos cumprir é essa, até o dia 22. Quando for às 19h do dia 22 entregamos o plantão para o chefe da ortopedia, que deverá assumir o plantão por mais 24 horas. Depois disso, como ele não terá mais para quem passar o plantão, ele será entregue para a diretora médica do Hospital, que assume a ortopedia do Walfredo”, afirmou Djalma Carlos. A decisão dos ortopedistas está resguardada pela assessoria jurídica do Sindicato dos Médicos e do Conselho Regional de Medicina.
Condições de Trabalho
Além do déficit de profissionais, os ortopedistas relataram, o que consideram como péssimas, as condições de trabalho no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. O ortopedista Edson Borges conta que, das seis salas do centro cirúrgico, uma está interditada e a outra está funcionando como depósito. Das quatro, segundo o ortopedista, só funciona uma, pois o paciente quando é operado, quando não há vaga para recuperação no CRO, ocupa a sala do centro cirúrgico, ocupando também uma equipe de enfermagem.
O ortopedista Tiago Almeida conta que ontem, um paciente internado na enfermaria, ameaçou processá-lo, em função da demora na transferência para uma cirurgia ortopédica. “Entreguei o paciente para a direção técnica, pois não tem condições de passar a visita nos pacientes e ser ameaçado”, afirmou. “O paciente entra em um hospital inóspito, pega uma escala deficitária, esperando quatro cinco horas por um médico e descarrega no médico, que já vem cansado de uma cirurgia, por não ter onde operar, não ter material, ter que ficar mendigando para poder exercer a função”, desabafou o médico Tiago Almeida. Tiago disse que a medida de não cumprir a escala proposta pela Sesap não tem nada a ver com a implantação do ponto eletrônico no Hospital.

Direção do Hospital esclarece escala de ortopedistas do HWG
A direção do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) esclarece que está tentando um entendimento junto aos ortopedistas, lotados na unidade, para solucionar o embate criado pela categoria acerca do cumprimento da escala de plantão do mês de dezembro, prejudicado após o pedido de exoneração de quatro profissionais, alguns dias após o fechamento da escala.
Segundo o chefe da especialidade no Hospital Walfredo Gurgel, Amaro Alves, a principal reivindicação do grupo é a permanência da escala com três profissionais por cada plantão de seis horas. Porém, se assim permanecer, a partir do próximo dia 22, não haverá assistência ortopédica no Walfredo Gurgel, devido à falta de profissionais para preencher a escala até o fim do mês.
Diante da situação, a direção do hospital procurou ajuda da Secretaria Estadual da Saúde Pública (Sesap), através de sua assessoria jurídica. O Setor elaborou e enviou ao hospital o Ofício n.º 4625/2013/GS-Sesap. O documento lista uma série de fatores pelos quais se faz necessário, neste momento, o cumprimento da escala alternando entre dois e três ortopedistas por plantão. Dessa maneira, a escala estaria fechada e a população não estaria desassistida até o final de dezembro.
Porém, ainda não se chegou a um acordo e, quando solicitados para que formalizassem a decisão de descumprimento da escala elaborada pela Assessoria Jurídica da Sesap, os ortopedistas também não atenderam ao pedido da direção.
Diante disso, a direção do Hospital informa a população de todo o Rio Grande do Norte que todos os esforços possíveis estão sendo feitos pela Sesap para que esta situação seja resolvida com a maior brevidade possível, sem que haja prejuízos no atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Esclarece ainda que a solução definitiva para o problema será a convocação de novos ortopedistas concursados, mas, não há tempo hábil para o ingresso na escala deste mês, devido o recente pedido de demissão dos profissionais. É o caso também da contratação de plantões através da Cooperativa Médica, que precisa de tempo para o trâmite do processo, seguindo o que preconiza a administração pública.

Servidores estaduais suspendem paralisação
Em assembleia realizada na manhã desta sexta-feira (13) os servidores estaduais da saúde do Rio Grande do Norte resolveram suspender a paralisação que foi iniciada na última segunda-feira (9). Os serviços suspenderam a greve, já que o secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, não encaminhou o projeto de lei que modificaria o Plano de Cargos, Carreiras e Salários, em tempo hábil a Assembleia Legislativa.
A assessoria de imprensa do Sindicato dos Servidores em Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaúde-RN) informou que a greve foi suspensa, mesmo sem ter nenhuma reivindicação atendida, pois os servidores não queriam manter uma greve por dois meses sem poder negociar com a Secretaria Estadual de Saúde, já que a Assembleia Legislativa entra em recesso hoje e só retoma as atividades parlamentares no dia 15 de fevereiro de 2014. Para o Sindicato, a retomada da greve serviu como alerta e para mostrar que o Governo não cumpriu com o acordo. Além disso, os servidores prometem intensificar as ações no próximo ano, a fim de pressionar o Governo do Estado a atender as reivindicações da categoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário