Potiguar campeão peso galo se confirma como um dos principais nomes do MMA EM TODO O PLANETA
Deitado no sofá da humilde casa do avô no bairro das Quintas, o lutador Renan Barão recebe a mensagem do mestre André Pederneiras, direto da academia Nova União, no Rio de Janeiro. “Viagem marcada para Nova York. Divulgação do UFC 169”, diz o texto. Barão olha, sorri e solta: “Quem diz que campeão tem vida fácil?”
Viagens assim, inesperadas, estão entre as mudanças que surgiram na vida do campeão interino peso galo do UFC depois da última vitória, contra o americano Eddie Wineland. O nocaute no segundo round, depois de um poderoso chute giratório, não foi só a confirmação de que Barão seguia com o cinturão da categoria. Era também o decreto de que a vida do natalense de 26 anos nunca mais seria a mesma.
“Renan Barão é um dos cinco melhores lutadores da atualidade”, disse o chefão do UFC, Dana White, visivelmente deslumbrado com o potiguar após mais uma apresentação irretocável. “Este lutador está invicto há oito anos. Vocês têm ideia disso? Barão parece estar se tornando imbatível na categoria”, acrescentou o americano.
Dana White não só gostou da movimentação e explosão de Barão nas lutas. Adorou o jeito dele se portar fora do octógono. Por isso, hoje o potiguar já desponta como um dos garotos propagandas do UFC. Estará no próximo videogame da organização e terá um boneco com a sua cara lançado neste final de ano.
E não é só. A viagem para NY faz parte de uma estratégia do UFC para mostrar que o torneio vai além de lutas – que são proibidas na cidade devido a uma lei local. A maior organização de MMA do mundo tenta entrar na cidade, um dos maiores mercados do planeta, mostrando que o esporte também ajudou na mudança de vida de muitas pessoas, como o próprio Barão.
Contudo, é bem verdade que o UFC não é o único a explorar a marca que Barão se tornou. O potiguar é, hoje, o principal nome no Brasil da fornecedora de material esportivo Pretorian, além de ser patrocinado por TNT e pela LeBrant’s. Comercial e ações de marketing, já fez para a Oral-B, Doritos e Netshoes. A expectativa é que, nos próximos meses, o lutador também encabece propagandas para marcas locais, como forma de reforçar a imagem dele no RN. “Sou convidado por organizadores de eventos do Brasil todo para fazer presenças. É bom ver que o esporte está crescendo”, comemora.
Eventos e ações de marketing não são as únicas provas que o MMA cresceu no Brasil e busca novos ídolos. A imprensa nacional é uma prova da busca por esse público e, por isso, Barão já participou de programas como o Corujão do Esporte, o Domingão do Faustão e o Altas Horas. “São lugares que deram um frio na barriga de participar, mas que me deixou muito feliz e emocionado. É o reconhecimento de um trabalho longo”.
É bem verdade, no entanto, que apesar de ter se acentuado depois da vitória de agosto, a curva da “mudança de vida” de Barão começou lá atras, quando ele decidiu ir sozinho para o Rio de Janeiro tentar a vida como lutador após ter várias conquistas em campeonatos e eventos locais e regionais. Ficou vários dias morando na academia, começou a lutar em organizações nacionais, como o Shooto Brazil.
“Foi quando fui campeão do Shooto que cheguei ao UFC e mudei minha vida, mas mesmo lá, no início, não foi fácil”, conta o potiguar, que tem 32 lutas de invencibilidade, sendo 13 vitórias por finalização e 13 por nocaute. “Acho que minha vida começou a mudar mesmo depois do cinturão. Foi um divisor de águas na minha carreira”, conta o potiguar.
O cinturão interino da categoria galo foi conquistado em 2012, na luta contra o americano Urijah Faber, por decisão unânime dos árbitros. Depois, no início deste ano, Barão voltou a lutar e a vencer: o jovem Michael McDonald, por finalização no quarto round. “Essa luta foi bem legal porque começou minha parceria com o Forró da Pegação. Entrei com uma música deles. Foi sucesso. Foi ali que comecei a fazer a dancinha de forró”, relembra.
Barão realizará sonho de enfrentar Dominick Cruz
Depois de quase dois anos como campeão da categoria galo, Renan Barão, finalmente, vai poder tirar a palavra “interino” do título. Isso porque, no dia 1º de fevereiro, o potiguar enfrenta o campeão linear da categoria, o americano Dominick Cruz, que está sem lutar, devido há lesões, desde 2011.
“Finalmente essa luta vai acontecer. Sempre me perguntavam isso e nunca sabia responder. Dizia: isso é com o UFC. Dominick Cruz é um cara que respeito muito e desde que entrei na organização planejo enfrentá-lo”, afirma Barão.
O potiguar e o americano se enfrentarão no UFC 169, um “superevento” realizado no mesmo dia do Super Bowl. E a luta será a principal da noite, mesmo tendo no card o lutador José Aldo – campeão peso pena e com uma carreira consideravelmente mais extensa que a de Barão e a de Dominick – em ação. Mais uma prova da popularidade do lutador.
“É, parece que estou com moral com os ‘home’”, sorri Barão, para depois, mais sério, acrescentar: “isso me deixa muito feliz e com mais responsabilidade. Tenho que treinar ainda mais para retribuir a confiança deles em um grande show”.
Presente para a família e investimento no futuro
A pergunta sobre a luta contra Dominick Cruz não é a única resposta que Renan Barão tem respondido nos últimos tempos. Ganhador de três prêmios do UFC (Melhor Luta, Melhor Finalização e Melhor Nocaute, este último incluído como um dos 20 melhores de todos os tempos do Ultimate), o potiguar também já pode relatar a mudança de vida graças ao esporte.
“Com meu primeiro prêmio, comprei uma casinha para minha mãe. Foi uma grande conquista para mim e para minha família. Ela sempre quis uma casa própria”, relembra Barão, que investe praticamente tudo que ganha. “Temos uma carreira muito curta e, por isso, precisamos pensar no futuro”, justifica.
Barão também comprou um carro, para que não tivesse mais que andar de moto, por recomendação do UFC. “Também estou procurando dar uma vida melhor para o meu avô, que foi que cuidou de mim quando era pequeno e, claro, ajudar meu filho”, afirmou o potiguar, pai de Renan Lucas, de dois anos.
Natal: a terra do MMA tipo exportação
Renan Barão, evidentemente, não é o único nome do MMA local. Na verdade, o campeão do UFC é apenas mais um nome de uma geração vitoriosa que tem, dentre outros atletas, Ronny Markes, peso médio do UFC; Jussier Formiga, mosca do UFC; Gleisson Tibau, leve do UFC; Bethe Correia, galo do UFC; e os irmãos Patrício e Patrick Pitbull, do Bellator.
Com relação a resultados, este ano foi uma gangorra para eles. Ronny Markes, por exemplo, sentiu o peso da primeira derrota no maior evento de MMA do mundo, mas garante que aprendeu a lição com o revés. “Só é derrota mesmo quando você não aprende nada com ela. E eu aprendi”, analisa o peso médio.
Quem chegou mais longe foi Patrício Pitbull que venceu o GP do Bellator e, agora, deverá lutar pelo cinturão da categoria leve, de onde já foi campeão. Gleisson Tibau, que mora há alguns anos nos Estados Unidos, é outro lutador que está conseguindo reerguer a carreira. Neste ano, conquistou vitórias importantes que o reaproximaram da decisão pela “cinta” peso leve do UFC.
Falta de incentivo
Com tantos nomes nos dois maiores organizações de MMA do mundo (e mais uma dezena nos principais eventos nacionais, como o Shooto Brazil e o Jungle Fight), o Rio Grande do Norte tem se destacado como um celeiro de lutadores. Infelizmente, o Estado acaba apenas ficando nesta condição, de celeiro. Afinal, muitos acabam sendo forçado a deixar o RN para busca a profissionalização em outros estados.
Isso porque no Rio Grande do Norte não há Lei de Incentivo ao Esporte e, ao que parece, a utilização do esporte como “mídia” de divulgação do Estado ou Prefeitura só serve para o futebol, mesmo com as lutas do UFC sendo transmitidas para 150 países, ao vivo, o que seria uma oportunidade considerável para a divulgação das potencialidades turísticas locais.
“É uma pena que aqui não se pense assim. Conhecemos lutadores do Brasil e, nas conversas, eles falam que têm ajuda dos seus estados. Alguns são até embaixadores da Copa do Mundo em suas cidades. Aqui, infelizmente, isso não acontece”, afirma Ronny Markes, exemplificando o que diz citando os estados do Amazonas e do Pará, que têm em José Aldo Júnior e Lyoto Machida seus garotos propagandas.
Não que o poder público não conheça a importância dos lutadores na vida esportiva do Estado. Barão, quando conquistou o título do UFC, em 2012, chegou até a receber uma placa das mãos da governadora Rosalba Ciarlini, mas a ajuda acabou ficando só nisso mesmo.
“Até falei que aqui no Estado tinha vários campeões só esperando o reconhecimento para brilhar, mas que infelizmente não tem a oportunidade. Pedi ajuda não para mim, mas para outros, que estão precisando para continuar a carreira”, relembra Barão, acrescentando que o Governo até se prontificou a ajudar, mas as conversas não evoluíram.
Fonte: jornaldehoje.com.br
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