Brasil quer resposta por escrito do governo dos EUA em uma semana.
Cardozo e Figueiredo não quiseram responder se Dilma viajará aos EUA.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou nesta segunda-feira (2) que, se comprovados, os atos de espionagem dos Estados Unidos sobre a presidente Dilma Rousseff são "inadmissíveis" e "inaceitáveis".
“Do nosso ponto vista, isso representa uma violação inadmissível e inaceitável da soberania brasileira”, afirmou o chanceler durante entrevista no Palácio do Itamaraty. “Esse tipo de prática é incompatível com a confiança necessária a uma pareceria estratégica entre os dois países”.
A afirmação foi feita durante entrevista à imprensa sobre denúncias, reveladas peloFantástico, de que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), órgão de inteligência americano,coletou dados sobre comunicações da presidente Dilma Rousseff com seus principais assessores (veja a reportagem completa no vídeo ao lado).
Figueiredo não informou se a visita de chefe de Estado que Dilma fará aos Estados Unidos em outubro está mantida. Ele se recusou a responder perguntas sobre esse assunto alegando que o tema da entrevista era outro.
Na reunião que teve com embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, na manhã desta segunda-feira no Itamaraty, Figueiredo disse que falou sobre a “indignação” do governo brasileiro “com os fatos constantes nos documentos revelados, ou seja, a violação das comunicações da senhora presidenta da República”.
O ministro cobrou do embaixador “prontas explicações formais por escrito sobre os fatos revelados na reportagem”. O governo brasileiro espera uma reposta ainda esta semana, de acordo com o ministro.
“Ele [Shannon] entendeu o que foi dito, que foi dito em termos claros”, disse o chanceler. “As coisas quando têm que ser ditas de forma clara, são ditas de forma muito clara. Ele tomou nota de tudo que eu disse. Hoje é feriado nos EUA, mas ele se comprometeu a entrar em contato com a Casa Branca ainda hoje para narrar nossa conversa”, afirmou o ministro.
Questionado pela imprensa sobre que medidas concretas o governo brasileiro estuda adotar contra os Estados Unidos, o chanceler disse: “o tipo de reação [do governo brasileiro] vai depender do tipo de resposta que for dada, por isso precisamos de uma reposta formal por escrito e, a partir daí, vamos ver qual será o tipo de reação que teremos”.
O ministro afirmou ainda que o Brasil levará o assunto a foros internacionais e que conversará com países parceiros, como os integrantes dos Brics (Índia, China, Rússia e África do Sul) “para avaliar como eles se protegem desse tipo de situação, quais são as ações conjuntas que podem ser tomadas de modo a lidar com um tema grave como esse”.
Denúncia
Documentos classificados como ultrassecretos, que fazem parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, obtidos com exclusividade pelo Fantástico, mostram a presidente Dilma Rousseff, e o que seriam seus principais assessores, como alvo direto de espionagem da NSA. Um código indica isso.
O jornalista Glenn Greenwald, coautor da reportagem, foi quem recebeu os papéis das mãos de Edward Snowden - o ex-analista da NSA que deixou os EUA com documentos da agência com a intenção de divulgar o sistema de espionagem americano no mundo.
Glenn afirmou que recebeu o documento na primeira semana de junho, quando esteve com Snowden em Hong Kong. “Ele me deu esses documentos com todos os outros documentos no pacote original.”
O pacote tinha milhares de documento secretos. Glenn analisou esses papéis com Snowden durante uma semana em Hong Kong. Pouco depois, Snowden fugiu para a Rússia, onde passou 38 dias na área de trânsito do aeroporto de Moscou, até ter seu pedido de asilo aceito no país.
Durante a produção, a reportagem conversou com Snowden por um programa de bate-papo protegido contra espionagem. Escondido em algum ponto do território russo, ele disse que por exigência do governo local não pode comentar o conteúdo dos papéis, mas disse que acompanha a repercussão que os documentos estão tendo pelo mundo, inclusive no Brasil.
“Ficou muito claro, com esses documentos, que a espionagem já foi feita, porque eles não estão discutindo isso só como alguma coisa que eles estão planejando. Eles estão festejando o sucesso da espionagem”, afirmou Glenn.
Os documentos mostram que foi feita espionagem de comunicações da presidente Dilma com seus principais assessores. Também é espionada a comunicação dos assessores entre eles e com terceiros.
A apresentação secreta se chama "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil." Segundo a apresentação, o programa possibilita encontrar, sempre que quiser, uma "agulha no palheiro."
O palheiro, no caso, é o volume imenso de dados a que a espionagem americana tem acesso todos os dias, espionando as redes de telefonia, internet, servidores de e-mail e redes sociais. A agulha é quem eles escolherem.
No documento, de junho de 2012, são dois alvos: o presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato líder nas pesquisas para a presidência, e a presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
Como funciona
Selecionado o alvo, são monitorados os números de telefone, os e-mails e o IP (a identificação do computador). É feito o mesmo para os interlocutores escolhidos - no caso, assessores.
O que eles chamam de um “pulo” é toda a comunicação entre o alvo e os assessores. Um “pulo e meio” é quando os assessores conversam entre eles. “Dois pulos” é quando eles conversam com outras pessoas.
Investigação de Peña Nieto
Para espionar o então candidato mexicano Peña Nieto, o serviço de segurança internacional da NSA para América Latina - fez uma ação intensiva. Para isso, usou dois programas - um deles é chamado "Mainway" e serve para coletar o grande volume de informações que passa pelas redes de comunicação.
As mensagens de texto por telefone do candidato também foram interceptadas, usando o programa "Association", que pega as informações que circulam nas redes sociais. Daí, as mensagens vão para outro filtro - o "Dishfire" - que busca por determinadas palavras-chave.
Sob o título "mensagens interessantes", está a prova de que o conteúdo das mensagens foi acessado. Dois trechos são citados. Num deles, Peña Nieto conta quem seriam alguns de seus ministros - que só tomariam posse seis meses depois da eleição.
Investigação da presidente Dilma
Na sequência, vem a explicação de como foi feita a espionagem da presidente Dilma. "Goal" é o objetivo da operação: "melhorar a compreensão dos métodos de comunicação e dos interlocutores da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e seus principais assessores".
O que eles chamam de "sementes" são os endereços eletrônicos e números de telefones monitorados.
Um dos programa usados pela NSA é chamado de "DNI selectors" - que segundo outro documento vazado por Snowden, captura tudo o que o usuário faz na internet, incluindo o conteúdo de e-mails e sites visitados.
Um gráfico mostra toda a rede de comunicações da presidente com seus assessores. No gráfico, cada bolinha representa uma pessoa.
A imagem ampliada mostra que legendas ou nomes de quem teve a comunicação interceptada foram apagados para a apresentação.
No documento, não há exemplos de mensagens ou ligações entre a presidente e seus ministros, como aconteceu quando o agora presidente do México foi mencionado.
Mas na última página o documento diz que o método de espionagem usado é "uma filtragem simples e eficiente que permite obter dados que não são disponíveis de outra forma. E que pode ser repetido." Se pode ser repetido, tudo indica que foi levado a cabo.
Conclui, ainda, dizendo que a união de dois setores da NSA teve sucesso contra alvos de alto escalão: Brasil e México. Alvos importantes, que sabem do perigo de espionagem e protegem sua comunicação. Novamente, se houve sucesso é porque foram exemplos reais.
Fonte: g1.globo.com
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