sábado, 3 de agosto de 2013

'Já pensei em desistir', diz delegada sobre as condições de trabalho no RN

A delegada Taís Aires é responsável por três cidades do interior do estado.
Falta de pessoal e estrutura, como viaturas, são problemas apontados.



Delegada Taís Aires fez desabafo nas redes sociais (Foto: Igor Jácome/G1)
Delegada Taís Aires fez desabafo nas redes sociais
(Foto: Igor Jácome/G1)
“Quando os agentes saem para fazer uma intimação, tranco o cadeado da delegacia”. A revelação é parte do desabafo feito pela delegada Taís Aires Telino. Atuando há um ano como titular da Delegacia de Polícia de Santana do Matos, na região Central, ela é responsável por mais dois municípios e conta com uma equipe formada por três agentes e nenhum escrivão. “Nunca tive um”, acrescenta. Taís publicou sua denúncia em uma rede social. Nesta sexta-feira (2), ela concedeu entrevista ao G1 na sede da Associação de Delegados da Polícia Civil (Adepol). "Muitas investigações param por falta de estrutura", disse ela. “Já pensei em desistir, mas amo o que faço. Não sou mulher de pular do barco”, emendou.
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) disse reconhecer os problemas enfrentados pela Polícia Civil em todo o estado, mas não tem condições de resolver a situação devido à Lei de Limite Prudencial. A Sesed ainda diz que os problemas apresentados são antigos e já passaram por outras gestões.Segundo a delegada, os principais problemas enfrentados por ela são a falta de estrutura e de pessoal. “E o meu caso não é o mais grave. Há cidades onde só há um delegado e um agente”, afirma.
Atualmente, de acordo com a assessoria, delegados e agentes aprovados no último concurso, como é o caso da própria Taís, só são nomeados para preencher vagas abertas com saída de outros policiais. Apesar de afirmar que deseja aumentar o efetivo, a Secretaria declarou que não pode ultrapassar o limite prudencial estabelecido.
Dificuldades
Sediada em Santana dos Matos, a delegada também atende às demandas dos municípios deSão Rafael e Bodó. A delegacia conta apenas com um carro de polícia caracterizado. “Nós não temos um carro descaracterizado para manter campana (vigília). Já tive que usar meu próprio carro para monitorar uma quadrilha de assalto a bancos”, revela.
A delegacia funciona em um prédio alugado e cedido pelo município. A limpeza e a reforma do prédio também estão a cargo da administração municipal. “No dia em que a prefeitura pedir o prédio, ficaremos sem teto”, acrescenta.
“O ar condicionado foi instalado pela prefeitura, os móveis foram doados por um banco; o computador, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RN)”, ainda afirma. “Não temos sequer fax. Isso atrapalha a comunicação com outras delegacias”. De acordo com ela, os agentes precisam escanear documentos para mandar por e-mail ou ir a uma farmácia para poder fazer mandar o fax. "Muitas investigações param por falta de estrutura", conta.
Quando à falta de pessoal, ela reclama que há apenas três agentes na delegacia, para atuar nos três municípios. "Nunca tive um escrivão. Ele é parte fundamental em uma delegacia", argumenta. Em alguns meses do ano, a delegacia chega a ter apenas dois agentes. "É regra da polícia que nenhum agente pode sair para uma intimação, por exemplo, só". Quando meus agentes saem tranco o cadeado da delegacia", admite.  
“Já pensei em desistir”
A bacharel conta que já pensou em desistir da profissão. Mesmo com o incentivo de outras pessoas para sair, ela escolheu permanecer na carreira. “Já pensei em sair, já passei em outro concurso, mas amo a carreira de polícia. Amo o que o que faço. Não sou mulher de pular do barco”, coloca.
De acordo com a Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Norte (Adepol), o estado tem cinco mil vagas abertas por lei. No entanto, pouco mais de 1.700 policiais atuam. A presidente da categoria, Ana Cláudia Saraiva Gomes, a situação enfrentada por Taís é a mesma de outros delegados no interior do estado.
“Estamos na iminência de um colapso na segurança por falta de estrutura e condições de trabalho”, disse ao G1. “Apesar disso tudo, estamos e trabalhando, pois somos aguerridos e temos respeito pela população. Fazemos nossa parte e clamamos que o Governo faça a dele”, concluiu.
Fonte: g1.globo.com

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