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Ao recusar o primeiro convite, o papa pediu a Temer que "olhasse pelos pobres" do Brasil
A cena do prefeito João Dória Jr pedindo, pessoalmente, que o Papa Francisco reconsiderasse a negativa e viesse ao Brasil em outubro, para comemorar os 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida, é das mais constrangedoras que já assisti.
Por Christiane Brito
O lado cômico é o Papa ser argentino e João Dória ter lhe presenteado com uma bandeira do Brasil assinada por todos os jogadores da seleção brasileira de futebol. Mas não foi por rivalidade futebolística que veio o segundo “não”. Obviamente!
O primeiro “não” foi dirigido a Michel Temer, que renovou, em carta oficial, o convite para a celebração histórica, enviado ao Papa Francisco em dezembro de 2016. O Papa agradeceu muito, alegou que sua agenda estava cheia e pediu que Temer olhasse “pelos nossos pobres”, sempre lembrados em suas orações, garantiu.
E há dois dias, o prefeito de São Paulo resolveu ir a Roma, porque para lá, dizem, “vai quem tem boca”. E Dória usou a sua boca para pedir de novo que o Papa viesse ao Brasil, que desse “um jeitinho” na agenda. Aqui preciso explicar que estou usando “aspas” de modo indevido, irônico: elas não reproduzem nenhuma fala literal.
Voltando ao Papa Francisco, ele pegou a bandeira das mãos de Dória, agradeceu, reafirmou que a sua agenda está muito lotada e garantiu que enviaria, sempre, muitas bênçãos ao Brasil.
João Dória Jr é publicitário e filho de publicitário, homem da comunicação, mas nunca vi alguém escangalhar tanto e tão rapidamente a própria imagem como ele: desde que assumiu a prefeitura de São Paulo, em janeiro, já se vestiu de lixeiro e varreu calçadão, patético, já apagou pichações da nossa arte urbana e agora visita o Papa com tamanha pretensão.
Sem ter o que dizer após a resposta do Papa, sem ter mais boca para ir a Roma ou a qualquer lugar, chegou a esboçar uma crítica ao Sumo Pontífice (agora as aspas estão valendo):
“Talvez não tenha havido aí uma orientação adequada ao Santo Padre, porque não estar presente em uma data tão importante como essa, na maior nação católica do mundo, não me parece a melhor medida. Mas quem sou eu para julgar o Papa?”, disse João Dória.
Se apenas a imagem pública de Dória estivesse em jogo, eu nem me preocuparia em escrever algo a respeito, mas parece-me que é a imagem soberana do Brasil que está escorrendo pelo esgoto.
Pensa aí, João trabalhador, por que será que o Papa não virá ao Brasil para celebrar o dia da nossa santa padroeira… Eu não sei, tenho alguns palpites, prefiro ficar com a boca fechada, como ensinam os franceses.
Fonte: Jornal Tornado
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