Ana Silva
Antropóloga Taís Cruz recebeu de presente de um aluno o fragmento da tijela indígena
Na verdade, a professora e antropóloga Taís Cruz recebeu de presente o fragmento da tijela indígena de um aluno de pós-graduação. Marcelo Sena de Oliveira, de 29 anos, é formado em pedagogia, mas atualmente trabalha como pedreiro no município. Ele encontrou o objeto no ano de 2012 enquanto retirava a areia da reserva para a construção da sua própria casa.
Em um determinado momento, ele encontrou um obstáculo extremamente duro no solo. Marcelo continuou a bater pensando que era outra coisa. “Ela estava inteira, mas quando fui tirar ela se despedaçou. Deixei os pedaços lá porque porque eram muito miúdos”, contou o pedagogo. Pela decoração interna, ele desconfiou que o artefato fosse indígena. “Mas como a gente mora no interior não conhecia ninguém que pudesse dizer que era mesmo. Aí, quando soube que a minha professora dava aula de educação indígena, dei para ela”, acrescentou.
O fragmento da tijela pesa cerca de 10 quilos. A professora teve certeza de que aquele presente era realmente um material produzido há mais de 500 anos a partir das descrições de um livro sobre arte pré-histórica do arqueólogo brasileiro, André Prous. “A forma das grandes vasilhas abertas nem sempre é muito regular, traduzindo muitas vezes um certo desleixo com a simetria dos volumes. Em compensação, a decoração, exclusivamente pintada, obedece normas estritas e foi realizada com muito esmero. A borda é reforçada do lado de fora, apresentando uma estreita faixa plana decorada com frisos de bastonetes verticais ou oblíquos compondo triângulos”, narra o livro.
Toda a descrição confere exatamente com o artefato encontrado em Lagoa D’anta. Segundo Taís Cruz, essas tijelas eram artigos de rituais onde se comia as vísceras de guerreiros de povos inimigos. “Segundo relatos dos primeiros portuguesas essas tijelas eram utilizados em rituais de antropofagia. Ela não era uma vasilha simples, era usada para um ritual, por isso tem essa riqueza de detalhes”, acentuou.
Para a professora, essas peças tem a capacidade de contar pequenos capítulos de uma história que foi praticamente dizimada pelo colonizador. Dessa forma, é possível também revelar um pouco mais nossa própria identidade. “É uma peça única feita pelo povo único e que pode dizer muito de como aquele povo vivia”, disse a antropóloga.
Ameaça
O estudante Marcelo Sena de Oliveira informou que caminhões continuavam a retirar areia do local. Ele mesmo foi à reserva novamente na semana passada e encontrou outras peças semelhantes completamente despedaçadas. Em 2012, quando Marcelo achou a tijela, o terreno era de um particular. Hoje pertence à Prefeitura. Segundo ele, o presidente da Câmara já foi informado da raridade do local e vai tentar evitar a exploração para a construção civil.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br/
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