Secretária de Segurança Pública, Kalina Leite, fala das primeiras medidas de combate a criminalidade no Estado
Foto: José Aldenir
Alex Viana
Repórter de Política
A falta de policiamento ostensivo é apontada por especialistas em Segurança Pública como uma das razões da alta taxa de criminalidade no Rio Grande do Norte. Como no texto evangélico que fala sobre o trabalhador da última hora, os policiais norte-rio-grandeses estavam dispostos a trabalhar, faltavam-lhes as condições. “A polícia estava ávida para estar na rua e eu tenho certeza que a sociedade também estava querendo ver a polícia”, afirma a secretária de Segurança, Kalina Leite, em entrevista ao Jornal de Hoje.
Com as diárias operacionais pagas, o carnaval deste ano promete ser um dos mais seguros de todos os tempos. Cerca de 7 mil policiais estarão disponíveis para atuarem no período, entre servidores do Instituto Técnico e Científico de Polícia, Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte.
Em entrevista ao Jornal de Hoje, a secretária Kalina Leite aborda o atual momento da Segurança Pública, que sente os efeitos das primeiras medidas adotadas, apontando efetivamente para uma nova mentalidade no setor.
“O sistema de segurança foi um clamor da população durante muito tempo e eu diria que está há algum tempo em degradação. As primeiras medidas do atual governo passam necessariamente pelo resgate da valorização do policial, que há muito tempo vinha sendo tratado em segundo plano. Outra preocupação nossa é resgatar a credibilidade e fazer um chamamento da sociedade para valorizar o serviço policial. A polícia estava ávida para estar na rua e eu tenho certeza que a sociedade também estava querendo ver a polícia”, diz a secretária Kalina, que é delegada de Polícia Civil.
Apesar do incentivo aos recursos humanos, a infra-estrutura ainda é o maior problema. “Se em 40 dias a gente conseguiu evoluir em alguns pontos, decrescer alguns índices também, por outro lado a estrutura física das polícias em geral, de todo o sistema do ITEP, Corpo de Bombeiro, Policia Civil e Militar, é muito precária”, afirma. “São prédios absolutamente estragados, corroídos pelo tempo”, completa.
É necessário, ainda, aproveitar os surtos de desenvolvimento. No tocante à tecnologia da informação, a Copa do Mundo trouxe um legado importante, mas que ainda é subutilizado. “A questão de recursos humanos é notadamente a preocupação número um. Em verdade, são muitas frentes que nós temos que enfrentar. Mas o que me impressiona no servidor policial é a capacidade de ele se refazer a cada dia. A resposta está aí. A polícia na rua, alguns índices decrescendo, mas são muitos desafios”, diz.
Abaixo, veja os primeiras trechos da entrevista de Kalina Leite aO Jornal de Hoje:
“A polícia na rua inibe a criminalidade e espero que tenhamos um carnaval de paz”
CAPACITAÇÃO
“A capacitação é fundamental. Eu sou há 15 anos policial e teve uma época na polícia em que todos os dias havia curso nas academias. Tínhamos turmas se capacitando. Num passado de 10 anos era assim. Mas infelizmente não tem sido mais assim. Então nós queremos resgatar isso porque a qualificação até a aproximação da turma de uma policial com outra, trocando conhecimento, é salutar para a atividade. Além disso, os investimentos na área de inteligência são muito importantes. Temos alguns convênios que precisam urgentemente ser tocados, que estavam aguardando, não sei por quê, o momento propício. Mas agora nós estamos atualizando todos os termos de referências, todas as pesquisas mercadológicas, para darmos início à aquisição de alguns equipamentos”.
ITEP
“O ITEP inspira cuidados, sim. O quadro do ITEP é preocupante em todos os sentidos. A estrutura física não precisa falar porque muita gente conhece. A questão de recursos humanos, que muitas vezes a sociedade não tem conhecimento, é de extrema preocupação. Dos 500 e poucos servidores que temos no ITEP, apenas 100 são servidores do quadro, todo o restante, 400 outros servidores, são cedidos ou redistribuídos de outras atividades. Ou seja, esses servidores ingressaram no ITEP para a atividade fim que é o médico legista, o perito criminal. Então hoje atravessamos notadamente a questão de perito criminal e de médico legista uma situação extremamente preocupante. Não temos hoje médicos e peritos para completar a escala de Natal, de Caicó, Mossoró. Então a gente vai ter que congregar esforços juntos com o Ministério Público, Poder Judiciário, Tribunal de Contas, para encontrar realmente uma saída. Porque é um caso inclusive de saúde pública, porque se tem algum corpo no chão que precisa ser levado para o ITEP precisa de um médico legista para fazer o seu trabalho e não ter isso gera um dano, não só uma lesão aos diretos humanos, mas um dano tremendo a população”.
HOMICÍDIOS
“A Divisão de Homicídios é uma preocupação. Todos os outros índices, outros tipos criminais, os números estão baixando, mas o crime de homicídio é um crime complexo. Não se faz segurança pública sozinha, só polícia, a gente precisa de informação. É importante também esse momento para avisar a população que denuncie. A polícia sobrevive também de informação e está na pauta de prioridade a Divisão de Homicídios. Temos uma deficiência muito grande na Polícia Civil e um déficit de 70% no efetivo. Contamos hoje apenas com 30% do efetivo previsto em 2004. Mas os policiais civis estão demonstrando boa vontade e têm prendido todos os dias e a delegacia de homicídios já foi um avanço e já se esclarece casos de homicídios. Provavelmente nós caminharemos para a Divisão de Homicídios aqui no Estado.
DIÁRIAS
“O pagamento das diárias demonstra a seriedade que o governo tem tratado o sistema de segurança. É importante porque o policial estava necessitando desse resgate da credibilidade do próprio poder público. O inusitado é que, no passado, essas diárias operacionais eram só para a capital, no máximo para a Região Metropolitana. O governador, num ato de preocupação com o interior do Estado, estendeu as diárias operacionais também para os batalhões do interior. O que eu tenho ouvido é que isso tem um significado muito grande para o interior, porque o policial também está mais presente, nas ruas e no interior. Isso demonstra como que o governo trata e vai tratar a Segurança Pública nos próximos dias. É importante que se diga que polícia sozinha não consegue combater o crime, passa necessariamente por ações de prevenção, por envolvimento da sociedade, pelos municípios. É uma realidade que hoje todos os municípios pequenos estão participando. É importante que o município de Natal também participe de ações integradas de Segurança Pública. A grande diferença de Bogotá e Medellín, cidades exemplo de segurança citadas pelo governador, é que lá o município resolveu também entrar nessa luta que o sistema de segurança trava”.
ENFRENTAMENTO
“Em primeiro plano, ocupando os espaços onde tem mancha criminal mais evidente. Então urbanizando, iluminando, fazendo ações de prevenção junto com o Estado, inclusive. Mas é comprovado que, por exemplo, numa rua iluminada, numa rua saneada, a mancha criminal é mais leve. No nosso recurso tecnológico identificamos as manchas criminais. É impressionante quando a gente faz o zoom para identificar que rua é aquela e que o policial vai lá onde tem maior número de homicídios. O maior número de crimes são nas ruas que realmente necessitam da presença do Poder Público”.
CARNAVAL
“São ações integradas de todo o sistema de Segurança. Vão estar presente ITEP, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros. Estamos utilizando as ferramentas que o sistema dispõe, como a plataforma de observação, a delegacia móvel. Perspectivas são boas. A presença da polícia na rua inibe a criminalidade e que tenhamos um carnaval de paz, de tranquilidade. O Brasil não atravessa um momento muito propício para tantos festejos, a gente tem visto nos municípios, tem sido minorizada a essa questão da festividade com banda. Eu acredito que isso também repercute diretamente à medida que as festas são menores, repercutem diretamente no sistema de segurança também”.
REDUÇÃO
“Nós diminuímos roubo em 20%, furto em 10% e lesão corporal em 16% nos trinta dias de gestão em janeiro. Isso se deve sim ao policiamento ostensivo. Nos próximos meses nós vamos continuar intensificando o policiamento, clamar mais uma vez à sociedade que participe, que elogie o policial quando encontra o policial na rua. Ele gosta de ser valorizado, de ser reconhecido, de ser dito que é bacana que a polícia está aí perto da gente e incrementar a investigação criminal no que diz respeito ao homicídio, que foi o único índice que não cresceu, porém permaneceu. Então é importante que haja denúncia. A Secretaria de Segurança garante o sigilo da informação”.
RONDA
“Nos próximos dias vamos desenvolver ações no planejamento, com a polícia de proximidade, da Ronda Cidadã como o governador anunciou. Estamos planejando para implementar. Foi designado um oficial para tratar diretamente com a comunidade. Eu não gosto de estabelecer prazo porque são muitos enfrentamentos por trás de todo esse serviço público que a população ver. Precisa de uma demanda muito grande de serviço interno. Por exemplo, eu tenho uma preocupação tremenda com a quantidade de recursos que nós temos para tocar nesses quatro anos, convênios, a quantidade de prefeitos que procuram a Secretaria de Segurança Pública é muito grande”.
Fonte: jornaldehoje.com.br/
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