quarta-feira, 31 de maio de 2017

Agenda do governo é a do mercado, não a do povo



Foto: Fotos Públicas
 
 





















Ao discursar para empresários no Fórum de Investimentos Brasil 2017, em São Paulo, Rodrigo Maia não usou meias palavras. “A Câmara vai manter a defesa da agenda do mercado”, disse. No momento em que o presidente enfrenta uma grave crise, o parlamentar opinou que Temer garante “uma estabilidade muito maior” para o Congresso aprovar as reformas propostas pelo governo. 

No mesmo evento, o presidente Michel Temer ressaltou o compromisso nesse sentido e afirmou que “não há plano B” para o país. De acordo com ele, o seu governo recolocou o Brasil nos trilhos e o devolveu ao “caminho do desenvolvimento”. Entre os empresários, o sentimento majoritário tem sido o de que o importante é levar adiante as reformas, independentemente de quem as conduza.

Em entrevista ao Vermelho, Tonelli Vaz – que é assessor técnico da Câmara dos Deputados – avaliou que é preciso identificar quem se beneficia com os rumos definidos pela atual gestão. 

“Quando Temer diz que não tem plano B, significa que o governo segue firme nas reformas, na destruição do Estado e das políticas sociais. Essa é a única agenda que esse governo tem. O caminho que está traçado é este: desemprego de 13%. Para ele, o país está nos trilhos porque a bolsa vai muito bem, algumas empresas lucram. Não é um projeto para o povo, com emprego, cidadania. Esse não é parâmetro que ele usa para dizer se o país vai bem ou mal”, declarou.

De acordo com o Valor Econômico, durante sua fala aos empresários, Temer disse ainda que deu “uma injeção de profissionalismo” nas estatais, colocou fim “ao equívoco da política dos chamados campeões nacionais” no BNDES e introduziu “racionalidade econômica” em “setores-chave, como o de petróleo e gás”. 

“A racionalidade e a profissionalização de que ele fala quer dizer colocar as estatais a serviço do lucro e, não, a serviço da sociedade, de um projeto nacional. É por isso que a Petrobras não é mais obrigada a entrar na exploração do pré-sal, é por isso que o BNDES passa e ter mais dinheiro para a privatização que para investimentos”, apontou Tonelli. 

Na sua avaliação, o fim da política de campeões nacionais é, na verdade, o fim da política de crescimento das empresas nacionais. “O que está colocado aí é a destruição da indústria nacional, da indústria naval, das grandes construtoras. É a desnacionalização da economia: não precisa ter empresa brasileira. O que estamos vivendo é a desnacionalização brutal da economia”, reiterou.

Segundo ele, toda a lógica da atual gestão é a de ampliar lucros de acionistas, independentemente das necessidades da população. “Um exemplo primário disso é que, durante o racionamento de água em São Paulo, a Sabesp distribuía lucro aos seus acionistas. Não tinha água para entregar ao povo, mas lucro tinha. É como a Petrobras, que pode estar vendendo ativos e produzindo lucros. Quando ela faz isso, os acionistas, especialmente os que estão em Nova York, adoram. Mas, para o governo, o que não pode é a Petrobras pegar seu lucro e investir no país, que aí os acionistas não gostam”, criticou.

Para Tonelli, quando Temer fala que há avanços, é preciso ver para quem são estes avanços. “Não investir no pré-sal e ter lucro é avanço para quem? Para os donos das ações em Nova York? Porque para o país não é. Avanço para o povo brasileiro seria continuar com a nacionalização da produção do petróleo, desenvolvendo a indústria naval, da construção civil, o emprego no Brasil”, opinou. 

“Temer defende a agenda de menos Estado para o povo, portanto pode destruir os direitos sociais, os direitos trabalhistas, para que os empresários tenham mais lucro. Pode precarizar saúde e educação para que sobre mais dinheiro para os mesmos”, condenou.

Tonelli defendeu, contudo, que se o atual governo conseguirá ou não levar adiante essa agenda só depende do povo nas ruas. “O presidente faz uma análise de conjuntura e de futuro que exclui o povo como agente político, detentor de direitos e vontades. Esse tipo de análise não leva em conta que o povo na rua pode querer ditar o seu futuro. Para eles, não existe nós, o povo; existe nós, o banco, o mercado”, afirmou. 

O especialista em políticas públicas analisou que as recentes mobilizações já têm surtido efeito no debate sobre as reformas e que o crescimento dos protestos é decisivo. “O povo na rua muda essa agenda, como já mudou. Houve o ato em Brasília no dia 24, a greve geral, o ato pelas Diretas Já no Rio, que agora vai ter em São Paulo no domingo. O movimento pelas diretas cresce. Esse são elementos que vão construir o futuro e suas alternativas. Assim a sociedade pode exigir do governo um outro futuro. Se esse governo não quiser dar, que saia da frente”, encerrou. 





Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho

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