segunda-feira, 31 de março de 2014

A nossa homenagem aos que em 1964 resistiram ao Golpe Militar, e seguraram a bandeira da democracia

Blog do Professor e Poeta Antonio Barbosa, homenageia a todos que por disversos segmentos resistiram ao Golpe Militar de 1964.



Forças Armadas: Almirante Câmara Aragão, Peri Bevilaqua, General Assis Brasil. Governo: João Goulart, Franco Montouro, Walther Moreira Salles, Armando de Moraes Ancora, General Jair Dantas Ribeiro, Darcy Rybeiro, Waldir Piris. Movimentos, entidades e sindicatos: (JUC) Juventude Universitária Católica, (AP) Ação Popular, Ligas Camponesas, (CGT) Comando Geral dos Trabalhadores, Demístocles Batista, o Batistinha (CGT), José Serra ( UNE), (FMP) Frente de Mobilização Popular, (UNE) União Nacional dos Estudantes, Frente Progressista ao Apoio de Reformas de Base, Clodesmidt Riani (CGT), Dante Pellaconi (CGT), Roberto Lorena (CGT), (FPN) Frente Parlamentar Nacionalista. Partidos: Franco Julião PST, Miguel Arraes PSD, Luiz Carlos Prestes PCB, Leonel Brizola PTB, Tancredo Neves PSD, Gregório Bezerra, San Tiago Dantas, Almino Affonso. Igreja Católica: Dom Elder Câmara.

Ex-deputados relatam bastidores da sessão que depôs João Goulart

Sessão do Congresso em 2 de abril de 1964 declarou vaga a Presidência.
G1 ouviu 6 deputados que estavam na sessão na madrugada daquele dia.



Ex-deputados falam sobre sessão de declarou vaga a Presidência em 1964 (Foto: Montagem/Arte G1)

















Deputados que participaram na madrugada de 2 de abril de 1964 da sessão do Congresso que oficializou a deposição do presidente João Goulart pelo golpe militar retrataram ao G1 o ambiente de tensão, medo e quase violência instalado no plenário. Os relatos revelam episódios de xingamentos, cusparadas, ameaças e de parlamentares armados com revólveres na cintura.
(ESPECIAL "50 ANOS DO GOLPE MILITAR": a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31 de março de 1964. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou, porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na "lei ou na marra", com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas. Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura que durou 21 anos, terminando em 1985. Saiba mais)
Ney Maranhão (Foto: Vitor Tavares / G1)
O ex-deputado Ney Maranhão onde mora, Vitória de
Santo Antão (PE) (Foto: Vitor Tavares/G1)
A maioria dos deputados e senadores presentes foi surpreendida na noite do dia 1º e no início da madrugada do dia 2 pela convocação, por telefone, para uma sessão extraordinária na qual – saberiam depois – o presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade, declararia vaga a Presidência da República, sob o argumento de que Jango havia abandonado o governo.O então presidente, ameaçado nos dois dias anteriores pela movimentação das tropas comandadas por chefes militares contrários ao governo, tinha viajado para o Rio Grande do Sul.O ex-deputado pernambucano Ney Maranhão, 86 anos, em 1964 no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o mesmo de Jango, relembra do "rebuliço danado" que provocou a convocação extraordinária do Congresso. "Fomos convocados às pressas, para uma sessão às 2h da madrugada. Eu, particularmente, já sabia o que estava acontecendo, pelo que estava se desenhando", disse.Leopoldo Peres Sobrinho (Foto: Adneison Severiano/G1 AM)
O controlador-geral do AM e ex-deputado Leopoldo
Peres Sobrinho (Foto: Adneison Severiano/G1 AM)
Antes de a sessão se iniciar, Leopoldo Peres Sobrinho, 84 anos, então deputado pelo Amazonas do Partido Social Democrático (PSD), diz ter presenciado uma reunião "secreta" no gabinete de Auro Moura Andrade, que apoiava o golpe militar e defendia a destituição de Goulart.“Talvez eu fosse o mais novo integrante dessa reunião e sou um dos poucos que sabem do que se passou no gabinete [...]. Vi quando Auro de Moura Andrade chamou o Gustavo Capanema, que era um homem culto e um dos grandes juristas do país, falando-lhe algo no ouvido, cochichando. Capanema saltou e disse em voz alta: 'Auro isso é um absurdo. Mas vou fazer para evitar derramamento de sangue'”, contou.
Segundo Peres Sobrinho, os parlamentares convocados para a sessão desconheciam as intenções de Moura Andrade e não sabiam o que exatamente ele iria anunciar.
Plínio de Arruda Sampaio, 83, ao lado da mulher Marieta e do filho Francisco: 'Infelizmente, tivemos esse percalço na nossa história, que ainda não passou, e não vai passar mais cedo'. (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Plínio de Arruda Sampaio, 83, ao lado da mulher
Marieta e do filho Francisco, na casa onde mora na
capital paulista (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)



















Ao chegar ao Congresso, o deputado Plinio de Arruda Sampaio, 83 anos, na ocasião integrante da bancada paulista do Partido Democrata Cristâo (PDC), diz ter percebido uma "tensão brutal"
“O clima estava uma coisa terrível [...]. Deputados golpistas e deputados do Jango ofendendo, um botando o dedo na cara do outro, era coisa quase de soco. Revólver na cinta, todo mundo com revólver aparente. Clima tensíssimo. Uma sessão violentíssima”, contou Sampaio, 83 anos, atualmente filiado ao PSOL
.Durante a sessão, alguns deputados abasteciam de informações o ex-presidente Juscelino Kubitscheck, que acompanhava com ansiedade os acontecimentos. “Juscelino estava preocupadíssimo”, afirma o ex-deputado Carlos Murilo, do PSD de Minas, primo do ex-presidente. Murilo, que se disse "homem de confiança" de Juscelino, afirmou ter passado a madrugada entre o Congresso e o apartamento do ex-presidente.

O ex-deputado Carlos Murilo, em sua casa, em Brasília, com exemplar do livro que escreveu sobre JK (Foto: Laura Tizzo / G1)
O ex-deputado Carlos Murilo, em sua casa, em
Brasília, com exemplar do livro que escreveu sobre
JK (Foto: Laura Tizzo / G1)
“Eu e o Renato Azeredo (PSD) [pai do ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), processado no caso do mensalão tucano em Minas], estávamos no apartamento de Juscelino em Brasília. Tinha muita gente lá, falando alto [...]. Passei a noite indo e voltando do apartamento do Juscelino, passando informações”, declarou Murilo, que se recorda da preocupação de parlamentares da esquerda, com medo de serem presos.Ex-ministro do Trabalho e da Previdência do governo Jango e na época deputado do PTB pelo Amazonas, Almino Affonso, 84 anos, afirma que, logo depois de Moura Andrade anunciar que a Presidência estava vaga e que o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, iria substituí-lo, o moderado líder do governo na Câmara, deputado Tancredo Neves (PSD) – que em 1985 viria a ser o primeiro presidente civil após a era militar, mas que morreu antes de tomar posse – levantou-se e se dirigiu ao presidente do Congresso aos gritos: "Canalha, canalha!".Almino Affonso, 85, foi ministro do Trabalho e da Previdência Social de João Goulart e estava na sessão do Congresso que declarou vaga a Presidência em 2 de abril de 1964. (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Almino Affonso, durante entrevista no apartamento
onde mora, em SP (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)

De acordo com Almino Affonso, o anúncio também motivou a ira de outro deputado, Rogê Ferreira, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que partiu para cima de Moura Andrade.
"Alto, hercúleo, [Rogê Ferreira] consegue aproximar-se daqueles seguranças do Congresso, afasta-os, aproxima-se do Moura Andrade e dá duas cusparadas, que eu passei a chamar de 'cusparadas cívicas'", declarou Almino Affonso.
Emílio Gomes, 89 anos, se qualifica como um deputado de "primeira viagem" em 1964. Filiado ao PDC, integrava a bancada do Paraná na Câmara. Ele disse que, como novato, acreditou na época que Moura Andrade tivesse adotado "uma posição legal". "Eu acreditei que fosse verdade. Se ele estava falando, é porque tinha algum documento", declarou.
"Eu não tinha o conchavo com políticos. A mim não era dada, ou talvez não merecesse, a confiança do que se passava, do que se estavam tramando", diz Emilio Gomes  (Foto: Bibiana Dionísio/G1)
O ex-deputado federal e ex-governador do Paraná
Emilio (Foto: Bibiana Dionísio/G1)
Ao final da sessão, Gomes disse ter passado por momentos de tensão e medo depois que Moura Andrade convidou um grupo de parlamentares – entre os quais ele estava – para se dirigir ao Palácio do Planalto a fim de, ainda na madrugada, dar posse a Ranieri Mazzilli.
"Nós saímos a convite dele [Auro de Andrade] pela garagem, que tem uma saída que sai do Senado direto para o Palácio do Planalto. Atravessamos para assistir a posse do novo presidente. Quando estávamos descendo a rampa [...], o pelotão ali de guarda não sabia do que se tratava. Eu só sei que um camarada pegou a metralhadora e apontou, e eu pensei: 'Pronto, acabou a minha valentia'. O que eu faço? Eu não tive ação nenhuma. Fiquei parado, como os outros pararam. Quem estava próximo era o coronel Costa Cavalcanti, que conhecia bem o linguajar militar. Então, ele gritou: 'Não atire, chame o seu oficial de dia'. Veio o oficial de dia, eles conversaram. Então, eles se afastaram e nós entramos."
A revisão do ato de Auro de Moura Andrade se deu somente quase 50 anos depois. No dia 21 de novembro do ano passado, o Congresso Nacional anulou a sessão legislativa que destituiu o ex-presidente da República João Goulart do cargo – uma decisão com valor simbólico, a fim de se retiirar o caráter de legalidade do golpe militar de 1964.
Abaixo, leia trechos das falas dos parlamentares na sessão de 2 de abril de 1964, com base nos registros taquigráficos do Congresso, e ouça parte do pronunciamento do presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade.
Sessão é aberta de madrugada, por volta das 2h.
Presidente Moura Andrade: 

As listas de presença acusam o comparecimento de 29 senadores e 183 deputados, num total de 212. Senhores congressistas, havendo número legal, declaro aberta a sessão. Essa sessão conjunta do Congresso Nacional foi convocada a fim de que a Presidência pudesse fazer um comunicado e uma declaração. Passo a enuncia-las...
 Sr. Bocayuva Cunha:

Sr. Presidente, peço a palavra
Presidente:

A presidência não pode ser interrompida. Darei a palavra a vossa excelência depois de haver a presidência encerrado a exposição...
Sr. Bocayuva Cunha:

Pedi antes a palavra.
Sr. Presidente:

Não é possível. Antes de colocar o tema, vossa excelência não pode suscitar questão de ordem.
Sr. Bocayuva Cunha:

O governador do estado do Rio de Janeiro foi preso por oficiais da marinha...
(tumulto no plenário)

Sr. Presidente:

(Faz soar a campainha) Peço licença ao nobre deputado Bocayuva Cunha. Não posso permitir que vossa excelência prossiga numa questão de ordem que não diz respeito à ordem dos trabalhos desta casa. O assunto que sua excelência traz ao conhecimento da Casa é matéria para deliberação....
(tumulto no plenário)
Sr. Presidente:

(faz soar a campainha) Atenção aos senhores deputados. Serei forçado a suspender a sessão até que a calma volte ao plenário, para que esta presidência possa cumprir o seu dever de fazer a comunicação e a declaração que lhe cabe formular nesta hora angustiosa da vida brasileira. Está suspensa a sessão.
(suspende-se a sessão)
Sr. Presidente:

Está reaberta a sessão. Comunico ao Congresso Nacional que o senhor João Goulart deixou, por força dos notórios acontecimentos de que a Nação é conhecedora, o governo da República.
(aplausos prolongados, protestos, tumulto)
Sobre a Mesa, ofício do senhor Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil da Presidência da República, que será lido pelo 1º Secretário.
É lido o seguinte:


"Ofício
Brasília, 2 de abril de 1984
Senhor presidente,
O senhor presidente da República incumbiu-me de comunicar a vossa excelência que, em virtude dos acontecimentos nacionais das últimas horas, para preservar de esbulho criminoso o mandato que o povo lhe conferiu, investindo-o na chefia do Poder Executivo, decidiu viajar par ao Rio Grande do Sul, onde se encontra à frente das tropas militares legalistas e no pleno exercício dos poderes constitucionais e o seu ministério.
Atenciosamente,
Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil."

Sr. Sérgio Magalhães:

Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem, baseado no Regimento Comum.
Sr. Presidente:

Tem a palavra o nobre congressista Sérgio Magalhães.
Sr. Sérgio Magalhães:

Sr. Presidente, minha questão de ordem se baseia, como disse, no Regimento Comum, cujo art. 1º estabelece que o Senado Federal e a Câmara dos Deputados reunir-se-ão em sessão conjunta para: inaugurar sessão legislativa; elaborar ou reformar o regimento comum; receber o compromisso do presidente e do vice-presidente da República; deliberar sobre veto aposto pelo presidente da República; eleger o presidente e o vice-presidente da República nos casos do art. 70 da Constituição Federal. Nessas condições, senhor presidente, não vejo como enquadrar no regimento comum a convocação que vossa excelência fez com o fim de que o Congresso ouvisse um comunicado. Essa comunicação, portanto, é antirregimental, como antirregimental, em consequência, é a convocação do Congresso para ouvi-la.
(aplausos e não apoiados)
Sr. Presidente:

Em 1961, vossa excelência não entendeu dessa forma. Vossa excelência presidia, então, a Câmara dos Deputados...
(Palmas prolongadas, ‘muito bem’, ‘muito bem’, ‘muito bem’. Não apoiados, tumulto)
Sr. Sérgio Magalhães:

Sr. Presidente, peço a palavra para outra questão de ordem.
Sr. Presidente:

Vossa excelência tem a palavra.
Sr. Sérgio Magalhães:

De conformidade com os regimentos, não só da Câmara e do Senado, mas também com o regimento comum, uma vez proposta a questão de ordem, é obrigação do presidente respondê-la de forma conclusiva. (aplausos e não apoiados). Não pode vossa excelência invocar quaisquer erros que tenham sido cometidos no passado para fugir à resposta à nossa questão de ordem que, por casado, se baseia precisamente no art. 19 do regimento comum. Responda, vossa excelência, à questão de ordem para merecer o respeito dos congressistas.
(aplausos e não apoiados. Protestos veementes)
Sr. Presidente:

Desrespeito é o que ocorre quando o ímpeto do parlamentar que discorda do pronunciamento da Mesa interrompe a resposta à questão de ordem. (palmas prolongadas, ‘muito bem’, protestos e não apoiados).
Sr. Sérgio Magalhães:

É a Mesa que não se respeita!
Sr. Presidente:

A resposta a esta questão de ordem está não apenas no regimento, como nos fatos. Em 1961, para tomar conhecimento de gravíssima ocorrida na vida brasileira, o Congresso Nacional se reuniu seguidamente. Permaneceu mesmo em sessões permanentes das duas Casas porque assuntos dessa natureza só podem ser apreciados pelas Casas reunidas.
(palmas prolongadas e protestos).
A presidência deve concluir a sua comunicação.

O Sr. Presidente da República deixou a sede do governo (protestos, palmas, não apoiados). Deixou a nação acéfala numa hora gravíssima da vida brasileira em que é mister que o chefe de Estado permaneça à frente do seu governo. (apoiados, ‘muito bem’).
O Sr. Presidente da República abandonou o governo.

(aplausos calorosos, tumulto. Soam insistentemente as campainhas).
Sr. Presidente:

A acefalia continua. Há necessidade de que o Congresso Nacional, como poder civil, imediatamente tome atitude que lhe cabe, nos termos da Constituição. (palmas, protestos), para o fim de restaurar, na pátria conturbada, a autoridade do governo, a existência de governo. Não podemos permitir que o Brasil fique sem governo, abandonado.
(Palmas, tumulto)
Há sob a nossa responsabilidade a população do Brasil, o povo, a ordem. Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República (palmas prolongadas, protestos) e, nos termos do art. 79 da Constituição, declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
(Palmas prolongadas e protestos)
A sessão se encerra.
Está encerrada a sessão às 3 horas.
Fonte: g1.globo.com/

Ato pede punição a militares e criação de memorial na sede do DOI-Codi

Prédio hoje abriga o 36º DP, na região do Paraíso, em São Paulo.
Ato contou com presença de pessoas que foram torturadas no local.



Manifestantes participam do ato público 'Ditadura Nunca Mais: 50 anos do golpe militar' na antiga sede do DOI-Codi, que agora abriga a 36ª Delegacia de Polícia (Vila Mariana), na Zona Sul de São Paulo (Foto: Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo)Manifestantes participam de ato na antiga sede do DOI-Codi (Foto: Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo)
Um ato realizado na manhã desta segunda-feira (31) em São Paulo lembrou os 50 anos do golpe militar e pediu punição aos militares responsáveis por torturas e assassinatos.
O evento foi realizado no local onde funcionou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do 2º Exército, no bairro do Paraíso. Outro pedido dos manifestantes foi a transformação desse edifício, onde hoje funciona o 36º DP, em um memorial em homenagem às vítimas. O local já é tombado e considerado patrimônio histórico.
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Parentes de vítimas e organizações realizam ato 'Ditadura Nunca Mais' no dia que marca os 50 anos do golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil, na antiga sede do DOI-Codi em São Paulo (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo)Parentes de vítimas e organizações realizaram ato 'Ditadura Nunca Mais' no dia que marca os 50 anos do golpe  (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo)

O ato foi convocado pela internet e reuniu cerca de 140 entidades. Grupos de teatro fizeram apresentações alusivas ao golpe militar. Foi exibida ainda uma gravação do então deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura.
(ESPECIAL "50 ANOS DO GOLPE MILITAR": a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31 de março de 1964. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou, porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na "lei ou na marra", com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas. Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura que durou 21 anos, terminando em 1985. Saiba mais.)
Maria Amélia de Almeida Teles, torturada no DOI-Codi (Foto: Márcio Pinho/G1)
Maria Amélia de Almeida Teles, torturada no
DOI-Codi (Foto: Márcio Pinho/G1)
Os presentes leram em voz alta um manifesto em que chamaram o 31 de março de "Dia da Vergonha Nacional". O texto continha o nome das mais de 50 pessoas que morreram no prédio, entre eles o jornalista Vladimir Herzog. Em 2012, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que o atestado de óbito de Herzog fosse revisado para incluir que ele morreu em razão de maus-tratos.
Pessoas que foram torturadas no local estiveram presentes. Maria Amélia de Almeida Teles, de 69 anos, foi torturada com sua família no local. Ela era membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Maria Amélia afirmou que o estado brasileiro ainda tem as "mãos sujas de sangue" por não promover medidas para punir os militares que participaram de torturas e assassinatos e esclarecer as mortes. "Isso impede o avanço da democracia", disse.
Anivaldo Padilha, que foi torturado e participou do evento com imagem de um amigo desaparecido no período da ditadura (Foto: Márcio Pinho/G1)
Anivaldo Padilha, que foi torturado e participou do
evento com imagem de um amigo desaparecido
no período da ditadura (Foto: Márcio Pinho/G1)
Já Anivaldo Padilha, de 73 anos, emocionou-se ao chegar na antiga sede do DOI-Codi, onde foi torturado por mais de um mês em 1970. Ele era estudante e membro da Ação Popular. Após a prisão, ficou 13 anos exilado e morando em diferentes países. Nesse período, tinha pesadelos quase todas as noites. Foi quando conseguiu perdoar seus torturadores. "Eu percebi que o perdão às vezes é mais importante para quem perdoa do que para quem é perdoado", disse. Ainda assim, pede punição aos militares da época pelos crimes "contra a humanidade".
Ele também pede a criação de um memorial na sede do DOI-Codi. "Vamos estabelecer aqui um marco de memória para que nunca se esqueça o que aconteceu no Brasil", disse.







Fonte: G1 

50 anos após o golpe militar, presas de SC relatam tortura e detenção

Dos 580 presos políticos catarinenses na ditadura, 27 eram mulheres.
Depoimentos lembram momentos nos centros de tortura do país e de SC.


Dos 580 catarinenses presos durante o regime militar, identificados pela Comissão da Verdade Paulo Stuart Wright, 27 eram mulheres. Entre elas, Derlei Catarina de Luca e Rosângela Souza. Em comum, uma história de tortura e lutas em busca da preservação da memória das vítimas da Ditadura brasileira. Ambas atuam de forma ativa na identificação dos presos, torturados e mortos do estado onde nasceram e vivem. O golpe militar de 1964 completa 50 anos nesta segunda-feira (31).
Foto de Derlei Catarina de Luca encontrada nos arquivos do Dops (Foto: Arquivo pessoal)
Foto de Derlei Catarina de Luca encontrada nos
arquivos do Dops (Foto: Arquivo pessoal)
Derlei foi presa três vezes. A primeira foi durante um Congresso da União Nacional de Estudantes, em Ibiúna (SP), em 12 de outubro de 1968, quando todos os participantes foram detidos. Depois, em 5 de dezembro de 1968 foi presa em Florianópolis. Quase um ano depois foi capturada durante a Operação Bandeirante, em São Paulo, em 23 de novembro de 1969, centro clandestino do Exército financiado por empresários para cassar, torturar e matar os opositores do regime, que mais tarde se transformou no Doi/Codi. Natural de Içara, na terceira detenção, ela foi torturada e mantida encarcerada por vários meses. Passou por praticamente todos os tipos de tortura física empregados na época: pau-de-arara, cadeira do dragão, choque elétrico e a palmatória.
(ESPECIAL "50 ANOS DO GOLPE MILITAR": a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31 de março de 1964. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou, porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na "lei ou na marra", com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas. Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura que durou 21 anos, terminando em 1985. Saiba mais.)
A então estudante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi convidada a deixar os estudos depois de participar do Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna (SP), quando todos os participantes foram detidas. Tempo depois, ela foi pega novamente com uma maleta cheia de documentos comunistas de outros países. Ela relata que conheceu a sala de tortura às 19h de 23 de novembro de 1969.
Derlei Catarina de Luca (Foto: Arquivo pessoal)
Derlei Catarina de Luca atualmente é membro da
Comissão Estadual da Verdade
(Foto: Arquivo pessoal)
"A primeira noite é indescritível. Arrancam minhas roupas. Sou pendurada no pau-de arara, recebo choques elétricos nos dedos, vagina, ouvido. Quebram meus dentes. A dor é lancinante. Tão intensa que nem dá para gritar. O sangue escorre pela cabeça, melando os cabelos e pescoço. Os braços, seios e maxilar recebem pancadas e coronhadas de revólver. São vários homens gritando. Ninguém pergunta objetivamente nada. Eles berram”, relembra a ex-militante da Ação Popular, no livro "No Corpo e na Alma", que começou a escrever durante seu exílio em Cuba.
As agressões sofridas na primeira semana de reclusão a fizeram passar quatro dias desacordada. Levada para um hospital, foi medicada e recebeu tratamento até ser removida novamente e agredida mesmo engessada e machucada das torturas anteriores.
As sequelas daquela época ficaram marcadas no corpo e na alma, como ela mesma descreve em livro. Por causa das agressões, passou 20 anos em tratamento por problemas renais.
Foi exilada, no Chile, Panamá e depois em Cuba. Voltou para o Brasil com a Anistia em 1979 e continuou lutando em busca dos desaparecidos políticos. Hoje, ela é apontada por historiadores e militantes como uma das pessoas mais engajadas no estado de Santa Catarina.
Faltou com respeito com o presidente
Rosangela Souza foi presa aos 23 anos em 1979, por ter "faltado com o respeito com o então presidente, general Figueiredo. Na época estudante de Direito da UFSC, ela ajudou a organizar uma manifestação pública contra o governo vigente. Por causa disso, ficou presa dez dias e foi julgada pelo Tribunal Militar em Curitiba.

Comissão Estadual da Verdade (Foto: Carlos Kilian/Agência Alesc)
Rosângela depôs na Comissão Estadual da
Verdade (Foto: Carlos Kilian/Agência Alesc)
Durante oito dias, ela permaneceu incomunicável no Hospital Militar, em Florianópolis, quando foi interrogada e ameaçada. “Fui retirada da cama às 6h por policiais federais. Os carcereiros eram meus amigos de sala”, contou à Comissão da Verdade.
Atualmente, ela é advogada e atua na busca de informações dos presos, desaparecidos e mortos políticos da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina. É responsável por fazer o levantamento dos profissionais que sofreram repressão durante o regime militar.
Segundo ela, apesar dos dados obtidos ainda falta ter acesso a muitas informações cruciais para desvendar todos os abusos cometidos duranta a ditadura. Ela cita os arquivos da Marinha que continuam intocados. Conforme a advogada, foi um dos locais com os piores casos de tortura e desaparecimentos. “Nós temos que conseguir os arquivos do Cenimar”, ressaltou.
O posicionamento dela é enfático sobre os crimes cometidos naquela época. Em depoimento para a comissão da verdade e ao G1 defendeu: “precisamos da verdade. Depois, de justiça. Muitos jovens que não cometeram crime algum foram assassinados pelo estado. Os assassinos têm de ir para a cadeia. Esta é a minha posição particular”.
Fonte: g1.globo.com/