segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Decisão da Justiça ameaça votação sobre professores na Câmara do Rio

Juíza suspendeu reunião, do dia 23, que discitiu plano de cargos e salários.
Proposta está prevista para ser votada nesta terça; professores protestam.



Grevistas se concentram na Cinlândia no começo da noite de segunda (30) (Foto: Vanderlei Almeida/AFP)Grevistas se concentram na Cinelândia no começo da noite de segunda (30) (Foto: Vanderlei Almeida/AFP)









A reunião entre comissões parlamentares do Rio, que viabilizou, no dia 23, a votação do plano de cargos e salários dos funcionários de educação, foi suspensa nesta segunda-feira (30) pela juíza Gisele Guida de Faria, da 9ª Vara de Fazenda Pública. Na prática, o cancelamento pode impedir a votação, nesta terça (1º), da proposta que, segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), cobriria somente 7% da categoria. Para isso, a Câmara Municipal deve reconhecer que o encontro não teve validade.
A magistrada entende que a votação não deve ser considerada por conta da impossibilidade de vereadores participarem daquele encontro. Um dos parlamentares ausentes, Jefferson Moura (PSOL) comemorou a suspensão, depois de participar, também nesta segunda (30), de uma reunião entre as comissões de Servidores, Cultura e Educação, Constituição e Orçamento.
"De acordo com a decisão judicial, não é possível votar as emendas amanhã (terça). A Câmara apresentou a ata de uma reunião nos horários das 18h30 e 14h30. Sendo que às 14h30 (do dia 23) estávamos todos os vereadores reunidos com integrantes do Sepe", disse Moura.
No novo plano, está previsto gratificação de acordo com a formação. As medidas vão atingir 43 mil profissionais de educação ativos e inativos e terão impacto de R$ 3 bilhões em 5 anos. Neste período, o reajuste salarial dos professores poderá chegar até 60%. Os profissionais de Educação representam 60% dos servidores municipais.

Entenda o caso
Os professores afirmam que a greve só chegará ao fim com a elaboração de um novo Plano de Cargos Carreiras e Remuneração para a categoria. No dia 17 de setembro, a prefeitura enviou à Câmara dos Vereadores, em caráter de urgência, um plano, que foi duramente criticado pelo sindicato. Segundo o sindicato da categoria, as propostas apresentadas pelo governo foram insuficientes e ainda não há uma abertura clara para negociação.

A coordenadora do Sepe-RJ Marta Moraes afirmou que o Plano de Cargos e Salários não foi apresentado pela prefeitura aos professores. "Os maiores prejudicados são os professores e alunos. Ao negar negociar, ele [Paes] está comprometendo o ano letivo. Se ele quer fazer isso a culpa é dele. Caso haja corte de ponto, nós não vamos repor as aulas perdidas. O plano dele não contempla 90% da categoria e a formação de professores e funcionários. No nosso entendimento, eles são educadores", afirmou Marta.
O prefeito Eduardo Paes afirma, no entanto, que o Plano de Cargos e Salários está na Câmara  Municipal para ser votado. “A gente não pode viver sob ameaça. Estamos fazendo o que é melhor para a população, para prefeitura e pela categoria. O plano está lá na Câmara para ser votado. Tivemos diversos encontros e temos três acordos assinados”, afirmou.

O prefeito descartou que o plano elaborado pelo município seja retirado de votação na Câmara Municipal. O projeto foi encaminhado pelo poder Executivo municipal ao legislativo na quinta-feira passada (26), mas a votação foi suspensa depois que professores invadiram o plenário da Casa. A previsão é de que o plano entre na pauta de votação nesta terça-feira (1º). Paes afirmou ainda que o plano vai beneficiar todos os professores e não apenas aqueles que cumprem 40 horas, o que era uma reivindicação da categoria.

Dentro da Casa, reunião; fora, spray de pimenta
Mais cedo, cinco diretores do Sepe-RJ se reuniram com o vereador Luiz Antônio Guaraná (PMDB), da base do prefeito Eduardo Paes, para discutir o plano de cargos e salários. No entorno da Câmara, um policial militar usou spray de pimenta contra os docentes que participam de uma manifestação desde a manhã. Na madrugada de domingo (29), 20 pessoas ficaram feridas em tumulto com a PM durante a retirada de ativistas que ocupavam a casa.

Na reunião com o parlamentar nesta segunda (30), segundo a coordenadora geral do Sepe, Marta Moraes, nada sobre o plano de cargos e salários de professores foi discutido. Entrou em pauta somente a retirada de PMs do entorno da Casa. Os agentes faziam um cordão de isolamento impedindo a entrada de funcionários da educação, que, por sua vez, não permitiram a passagem de alguns parlamentares, como Jairinho (PSC). Policiais utilizam gás de pimenta contra professores em greve que participavam de protesto na entrada da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, no centro da cidade, na tarde desta segunda-feira.  (Foto: Alexandro Auler/Estadão Conteúdo)
Policiais utilizam gás de pimenta (Foto: Alexandro
Auler/Estadão Conteúdo)
"Infelizmente mais uma vez o governo mostra que não quer negociar. O Jefferson Moura fez a ação [pedindo a anulação da reunião que deu aval à criação do plano, no dia 23], mas ainda não lemos o documento na íntegra. Vamos continuar a pressionar pela retirada do plano e queremos que não haja a votação nesta terça. Nós queremos exigir que o plano não seja votado. A postura do governo está sendo autoritária e truculenta. A rua foi fechada nesta segunda, impedindo o direito de ir e vir", disse Marta, que convocou professores à Casa.
Os diretores do Sepe pediram no carro de som o apoio do vereador Luiz Antônio Guaraná para retirar a tropa da PM que cerca 20 professores na Rua Alcino Guanabara, em frente a uma das entradas da Câmara Municipal. Alguns comerciantes fecharam as portas. "Nós queremos negociar com o comandante", disse uma representante do sindicato no megafone. Em resposta, Guaraná informou que os policiais só estão no local para garantir a integridade física dos vereadores.
A PM informou, em nota, que atendeu a um pedido da presidência da Câmara, e fez um cordão de isolamento na casa. "A Câmara dos Vereadores está fechada hoje para visitação, já que a administração da casa faz uma avaliação patrimonial após a saída dos manifestantes. O controle de acesso de funcionários e de profissionais da imprensa está sendo feito pela equipe de segurança da Câmara", diz o texto.
Trabalhos serão retomados nesta terça, diz Câmara
A Câmara informou que os trabalhos da casa vão começar nesta terça (1º), no horário normal, às 14h. A votação do plano de cargos, carreiras e remunerações dos professores está prevista para 16h. Também nesta terça, está prevista uma nova assembleia do Sepe, em greve desde do dia 8 de agosto.

Batman volta à Câmara Municipal para apoiar professores em greve (Foto: Mariucha Machado/G1)Batman volta à Câmara Municipal para apoiar professores em greve (Foto: Mariucha Machado/G1)




















Retorno do Batman
Famoso por participar de manifestações no Rio, o "Batman" voltou à Câmara Municipal, no Centro, para apoiar professores que acampam do lado de fora da Casa, após terem sido retirados à força pela PM do Palácio Pedro Ernesto no sábado (28).

Desta vez, além da fantasia, Eron Moraes de Melo, de 32 anos, apareceu usando correntes e criticou o prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral. "Essa corrente mostra exatamente o que estamos vivendo, a repressão, a insconstitucionalidade da lei. Esse prefeito e esse governador esqueceram o que é democracia. Se você quiser um país de primeiro mundo, você tem que ter educação de primeiro mundo. Esse é um ato simbólico da repressão", disse o "Batman".
O prefeito Eduardo Paes descartou, na manhã desta segunda-feira (30), que o Plano de Cargos e Salários dos professores, elaborado pelo município, seja retirado de votação na Câmara Municipal. O projeto foi encaminhado pelo poder executivo municipal ao legislativo na quinta-feira passada (26), mas a votação foi suspensa depois que professores invadiram o plenário da Casa. A previsão é de que o plano entre na pauta de votação nesta terça-feira (1º). Paes afirmou ainda que o plano vai beneficiar todos os professores e não apenas aqueles que cumprem 40 horas, o que era uma reivindicação da categoria.
Após a desocupação da Câmara  da Municipal, na noite de sábado (28), quando a PM foi acusada de truculência no cumprimento de decisão judicial, o prefeito lamentou o ocorrido e criticou a ocupação da Casa por professores.
"É muito triste você ver professores invadindo o plenário do parlamento e as pessoas ocuparem o parlamento num estado democrático. Tem certas premissas da democracia que não podem ser feridas. E isso gera como consequência a desocupação do plenário. O bom é quando a gente senta e negocia", disse Eduardo Paes em entrevista àRádio CBN nesta segunda-feira.
Sobre o fato do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ) exigir a retirada do plano de votação, Paes argumentou que a prefeitura enviou o projeto com pedido de regime de urgência à Câmara a pedido do sindicato.
"Eles exigiram que eu enviasse o plano em 30 dias e exigiram que eu mandasse em regime de urgência. Cumpri exatamente o que eles exigiram de mim. Agora, compete à Câmara. A gente tem que entender que as propostas tem que ser racionais. Não adianta acertar um salário que a prefeitura não poderá pagar", disse o prefeito, descartando que o projeto seja retirado de votação.
Jack Sparrow também esteve na Câmara (Foto: Mariucha Machado/G1)Jack Sparrow também esteve na Câmara (Foto:
Mariucha Machado/G1)
Plano não contempla 90% da categoria, diz Sepe
A coordenadoras do Sepe-RJ Marta Moraes afirma que o Plano de Cargos e Salários não foi apresentado pela prefeitura aos professores. "Os maiores prejudicados são os professores e alunos. Ao negar negociar, ele [Paes] está comprometendo o ano letivo. Se ele quer fazer isso a culpa é dele. Caso haja corte de ponto, nós não vamos repor as aulas perdidas. O plano dele não contempla 90% da categoria e a formação de professores e funcionários. No nosso entendimento, eles são educadores", afirmou Marta.

O policiamento na Câmara Municipal está reforçado na manhã desta segunda-feira (30). As barracas dos professores acampados ao redor da Casa estão cercadas por duas barreiras de policiais na Rua Alcindo Guanabara. "Nós temos o direito de ir e vir. Estamos vivendo no período da ditadura. Esses professores são as vítimas", disse Marta.
Uma das pessoas que estão entre as barreiras policiais, a coordenadora do Sepe-RJ Gesa Corrêa pede que os professores do lado de fora da barreira convoquem outros docentes para ir até a Cinelândia protestar. "Precisamos que todos venham para cá agora. O prefeito acabou de dar uma entrevista mentirosa. Não adianta me reprimir, esse governo vai cair", dizia pelo megafone.
Os professores voltaram a acusar a polícia de truculência. "No sábado, a gente foi encurralado. Não usaram bombas para tirar a gente de lá, mas usaram armas de choque. Um professor, depois de tomar choque, foi arrastado. Eles usaram muita violência", reclamou a professora Marcele Ribeiro, mostrando marcas roxas no braço e na barriga.
"Eles disseram que a gente tinha que sair de qualquer maneira. Nós vamos processar o camandante porque eles nos retiraram à força. Vinte e dois professores foram hospitalizados. Não tinha nenhum mascarado. Vândalos são o governo do Eduardo Paes e do Sérgio Cabral", completou Marta Moraes.
Cabral critica professores
Durante a inauguração da Cidade da Polícia neste domingo (29), o governador do Rio, Sérgio Cabral, comentou a retirada dos professores da Câmara Municipal. Citando que não acha a ocupação a melhor forma de "dialogar", Cabral afirmou que não viu as imagens da ação da Polícia Militar, e, por isso, não poderia "julgar" a violência policial, reclamada por ativistas.

"Eu não posso fazer esse julgamento porque eu não vi ainda as imagens. A ocupação do plenário não é daquela maneira que tem que ser feita para participação de um debate. A democracia estabelece ritos que devem ser feitos. Eu, como ex-parlamentar, chefe do Poder Legislativo, acho que a participação da população deve se dar sempre, mas dentro de direitos e deveres. Mas se houve enfrentamento, eu, sinceramente, não vi. Ocupar um plenário não é a melhor forma de dialogar e fazer qualquer tipo de debate", disse.
Barreira policial no entorno da Câmara nesta segunda-feira (30) no Centro do Rio (Foto: Mariucha Machado/G1)Barreira policial no entorno da Câmara nesta segunda-feira (30) no Centro do Rio (Foto: Mariucha Machado/G1)Fonte; g1.globo.com

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