segunda-feira, 15 de novembro de 2010

I - IDADE MODERNA (1453 -1789)

A) QUINHENTISMO
VIAJANTES E CATEQUISTAS
PERO  VAZ DE CAMINHA

     Escreveu o primeiro documento oficial sobre o Brasil, ou melhor, sobre o descobrimento do Brasil. ele fez parte da expedição de Pedro Álvares Cabral, na qualidade de escrivão. A carta de Pero Vaz de Caminha só foi publicada e 1917, pelo Padre Aires de Casal.
    A carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manoel é na verdade a Certidão de Nascimento do Brasil, da terra brasileira. Nela, Pero Vaz de Caminha revelou-se profundo observador e etnólogo, principalmente quando descreve as características do aborígene; revelou-se naturalista, quando enumera a flora e a fauna da "Pindorama" ou da "Terra  dos Papagaios", isto é, do Brasil.
   A carta é datada de 1500 (11º de maio , escrita de Porto Seguro da Ilha de Vera Cruz. Através desse documento, ficamos conhecendo os habitantes da terra e seu relacionamento com os brancos, bem como informações valiosas sobre geografia, botânica e zoologia da região.
   A carta foi descoberta por Juan Batista Mulioz, cerca de 1793, na torre do Tombo, em Lisboa, e publicada pela primeira vez em 1817.
   Vamos conhecer alguns trechos da carta:
 
   "Senhor,
               
                    Posto que o Capitão-Mor desta Vossa frota, e assim (mesmo) os outros Capitães escreveram a vossa Alteza a notícia do achamento desta vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar nisso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que - para o bem contar e falar - o saiba pior que todos fazer!
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   Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à  terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro da terra e também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!
   Mostravam-lhes um papagaio pardo que o capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra como se os houvesse ali.
   Mostravam-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.
   Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.
  
    Deram-lhes ali de comer; pão e peixe cozido, confeito, fartens (bolos), mel figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada. e se provaram alguma coisa, logo a lançavam fora.
    Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.
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    Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de aqui há muito e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isso andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos...
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    Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. nas mãos traziam arcos com setas. Vinham todos rijamente sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os posaram. (...)
    A feição deles é seres pardos, maneira de avermelhados , de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. (...)
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    Traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, do comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita com roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer e no beber.
    Os cabelos seus são corredios. e andam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e at orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena a pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual e não fazia míngua mais lavagem para a levantar."
 
(CORTESÃO, JAIME. A Carta de Pero Vaz de Caminha,
                       Lisboa, Portugália Editora, 1967,pág. 223)

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